Há duas décadas, ao lançar os olhos sobre um novo modelo de carro nas ruas, você provavelmente veria versões mais básicas rodando em maior número. A distribuição era quase um padrão: 30% de versões básicas, 50% de intermediárias e apenas 20% pertenciam ao topo de linha.
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Com o avançar dos anos, esses números sofreram mutações, e agora o que predomina são os modelos mais luxuosos.
Mas o que causou essa mudança?
Nos anos 90, essa distribuição padrão mostrava a mentalidade do mercado automobilístico e dos consumidores. Porém, fatores recentes, como a pandemia de covid-19 e a consequente escassez de semicondutores, reconfiguraram a cena automotiva.
Atualmente, somente 10% dos carros são básicos. O mais surpreendente é que essa pequena fatia é majoritariamente direcionada para frotistas e locadoras.
E, se antes a falta de componentes justificava parte dessa mudança, hoje a realidade aponta para uma direção diferente. A crescente pressão das legislações de segurança e emissões está tornando difícil para as montadoras oferecerem os modelos de entrada e até carros mais acessíveis.
Isso é notório no mercado brasileiro, onde temos pouquíssimas opções de subcompactos no segmento A, como o Fiat Mobi e o Renault Kwid. E muitas linhas de carros maiores nem sequer incluem uma versão básica em sua gama.
Não é só no Brasil que essa tendência ganha força
Na Europa, um estudo recente da consultoria LMC Automotive ressaltou um fenômeno semelhante.
Segundo Sammy Chan, autor do relatório: “Estamos vendo uma queda acentuada no número de modelos de entrada à venda, pois os fabricantes vêm optando por não produzir carros pequenos que dão retornos financeiros menores”.
Os SUVs, que dominam a cena automotiva europeia, não estão imunes a essa tendência. Modelos de porte médio e grande oferecem margens de lucro mais atrativas para as montadoras do que os SUVs e crossovers compactos.
A ascensão dos Veículos Elétricos a Bateria (VEB) também influencia essa mudança. Carros do segmento A oferecem pouco espaço para baterias grandes, tornando seu alcance limitado, especialmente em climas mais frios.
A reflexão que fica é que, mesmo havendo demanda por modelos mais básicos e acessíveis, as montadoras podem não ver vantagem em investir nesse segmento se o retorno financeiro não for interessante.
E essa tendência fica ainda mais evidente quando consideramos as palavras do presidente da BMW, Oliver Zipse, que afirmou no Salão de Munique: “O segmento de automóveis básicos desaparecerá ou não será feito pelos fabricantes europeus”.
Assim, enquanto o mercado se transforma, os consumidores também mudam suas prioridades, adaptando-se a um cenário automobilístico em constante evolução. Resta saber como essa tendência impactará as futuras gerações de motoristas e o mundo automotivo como um todo.