A ortografia oficial da Língua Portuguesa é a parte da gramática que tem a finalidade de estudar a forma correta de escrever as palavras. Para isso, são observados os padrões, regras e o uso correto dos sinais de pontuação e acentuação.
A palavra grega orthos faz referência a ideia daquilo que é reto, exato e direito. Já a palavra latina graphia significa escrever. Portanto, a prática da ortografia está ligada, além da escrita correta, ao conhecimento das regras que enquadram a escrita nas condições da Língua Portuguesa, observando características etimológicas e fonológicas.
Assim sendo, quando o termo ortografia oficial é utilizado, quer dizer que estamos fazendo referência à ortografia definida como correta no Brasil.
Em concursos públicos e processos seletivos de todas as esferas é comum a cobrança do assunto tanto das provas de Português, quanto nas provas de redação, que costumam ser um grande diferencial na obtenção de boas colocações.
Por isso, preparamos um guia completo com os principais temas de ortografia oficial. Fique por dentro de todas as regras e aumente as chances de alcançar a tão sonhada aprovação.
Acentos
O uso dos acentos é um dos itens de ortografia oficial mais frequentes em concursos públicos. Para acabar com todas as dúvidas de quando usar, ou não, os acentos, fique atento às nossas dicas.
Em síntese, a acentuação tem como finalidade mudar o som de alguma letra, portanto, fazendo com que palavras escritas de forma semelhante sejam lidas de um jeito diferente e tenham significados diferentes.
Na Língua Portuguesa há quatro acentos gráficos, que podem ser definidos da seguinte forma.
Acento agudo (´) – é usado em vogais para indicar que a sílaba em que ela se encontra é tônica, ou seja, possui o som mais forte. O acento agudo faz com que as palavras sejam pronunciadas de forma aberta: célebre, acarajé, filé.
Acento circunflexo (^) – pode ser usado apenas nas vogais, A, E e O, indicando que elas devem ser pronunciadas de forma fechada: ângulo, ônus, ônibus, bônus.
Til (~) – é ele que dá o som anasalado às vogais A e O: propõem, constituição, preposição, ação.
Acento grave (`) – é usado para indicar a ocorrência de crase, assunto que será aprofundado em um tópico seguinte.
X e CH
Na hora de escrever, uma das dúvidas mais recorrentes diz respeito ao uso do X e do CH. Ainda mais porque, além de conhecer as regras, é necessário conhecer também as exceções.
Para fixar o uso correto de cada uma das situações a seguir, o ideal é ter uma boa rotina de leitura para assimilar a grafia correta das palavras. Vamos aos usos?
Uso do X e CH nas palavras provenientes do latim:
CH: quando são traduzidas do latim para o português, as sequências “pl” “fl” e “cl” transformam-se em CH.
Exemplos:
planus – chão
flamma – chama
clamare – chamar
X: palavras originárias do X latino ou quando há palatização do S em grupos ssi ou sce:
Exemplos:
examen – exame
luxu – luxo
laxare – deibar
pisce – peixe
passione – paixão
Casos em que o CH é utilizado:
- Em palavras de origem francesa (chofer (chauffeur), creche (crèche), debochar (débaucher), fetiche (fétiche), guichê (guichet) e champignon (champignon))
Casos em que o X é utilizado:
- Depois de ditongos (peixe, ameixa e caixa)
Algumas exceções são as palavras guache, recauchutar e caucho.
- Em palavras iniciadas pela sílaba “en”: enxada, enxerto e enxurrada;
Neste caso há duas exceções. A primeira diz respeito à palavra enchova, que é um regionalismo da palavra anchova, que tem origem genovesa: anciua.
A segunda exceção são as palavras formadas pela sílaba inicial “en”, seguidas por radical com “ch”. Alguns exemplos são: enchente, enchumaçar e encharcar.
- Em palavras iniciadas pela sílaba: “me” (mexilhão, México e mexer)
Aqui, a exceção é a palavra mecha (referindo-se aos cabelos) cuja origem é francesa, da palavra mèche. Algumas vezes a confusão pode ser ocasionada por conta da palavra mexe (do verbo mexer) que é grafada com x.
- Em palavras de origem tupi (capixaba, caxumba, xaxim, queixada, Pataxó, abacaxi, araxá e Xingu)
Um das exceções é a palavra que nomeia a cidade catarinense de Chapecó, que é uma derivação do tupi Xapeco e quer dizer, da donde se avista o caminho da roça.
- Em palavras de origem africana (afoxé, axé, xingar, xangô, maxixe, orixá, borocoxô, xodó e fuxico)
Algumas exceções são as palavras cachaça, chilique, e cachimbo.
- Em palavras de origem árabe (almoxarifado, elixir, haxixe, xarope, xadrez, xeque e enxaqueca)
As exceções são as palavras alcachofra e chafariz.
S ou Z
Na hora de escrever, outra confusão frequente está relacionada ao uso do S e do Z. Conheça algumas regrinhas que podem auxiliar:
Casos em que o S é utilizado:
- Em palavras que derivam de uma primitiva grafada com s (casa – casinha, casarão, análise – analisar e pesquisa – pesquisar)
Como exceção podemos citar: catequese – catequizar.
- Após ditongo quando houver o som de z (coisa e maisena)
- Nos sufixos “ês”, “esa”, “esia” e “isia”, quando indicarem nacionalidade, título ou origem (burguesia, portuguesa, poetisa e camponês)
A exceção é a palavra juíza, que deriva do masculino, juiz.
- Na conjugação dos verbos pôr e querer (ele pôs, ele quis, e nós quisemos)
- Nos sufixos gregos “ase”, “ese”, “ise” e “ose” (crise, tese, frase e osmose)
As exceções são as palavras deslize e gaze.
- Em palavras terminadas em “oso” e “osa” (gostosa e populoso)
Casos em que o Z é utilizado:
- Palavras terminadas em ez e eza serão escritas com z quando se tratarem de substantivos abstratos provenientes de adjetivos, portanto, indicando uma qualidade (certeza, nobreza, maciez e sensatez)
- Utiliza-se o z nas palavras derivadas com os sufixos “zinho” “zito” “zada” “zarrão”, “zorra”, “zudo”, “zeiro”, “zal” e “zona” (cafezal, homenzarrão, papelzinho e açaizeiro)
As exceções ocorrem quando o radical da palavra de origem possui o s: casa – casinha, asa – asinha e Teresa – Teresinha.
- Quando a derivação resultam em verbos terminados com o som de “izar” (economizar e aterrorizar)
Da mesma forma, há exceção quando o radical da palavra de origem possui o s: analisar e improvisar.
C, Ç, S e SS
Outra parte, ainda mais confusa, são as possibilidades de uso do c, ç, s e ss. Entretanto, as regrinhas são muito simples e fáceis de serem entendidas.
- O C tem valor de S com as vogais E e I. Antes de A, O ou U, utiliza-se o Ç (ocioso, acetato, açúcar e aço)
- Depois de consoante, utiliza-se S. Entre vogais, o correto é usar SS (concurso e pessoa)
- O S é utilizado em palavras que derivam de verbos terminados em “correr” “pelir” e “ergir” (compelir – compulsório, discorrer – discurso e imergir – imersão)
- Os verbos terminados em “dar” “der” “dir” “ter” “tir” e “mir” recebem o S quando perdem as letras D, T e M em suas derivações (redimir – remissão – remisso, expandir – expansão – expansível e iludir – ilusão – ilusório)
- Verbos não terminados em “dar” “der” “dir”, “ter” “tir” e “mir” recebem Ç quando mudam o radical (excetuar – exceção e proteger – proteção)
- Verbos que mantêm o radical recebem Ç em suas derivações (fundir – fundição e reter – retenção)
- Utiliza-se C ou Ç após o ditongo quando houver som de S (traição e coice)
- Utiliza-se C ou Ç nos sufixos “aça”, “aço”, “ação”, “çar”, “ecer’, “iça”, “iço”, “nça”, “uça”, “uço” (esperar – esperança, dente – dentuço, rico – ricaço e merece – merecer)
- Em palavras de origem árabe (açude, alface, alvoroço, celeste, cetim, açoite, açafrão)
Algumas exceções são arsenal, safra, salada e carmesim.
- Em palavras de origem tupi (camaçari, açaí, cacique, piaçava, paçoca, Iguaçu e cupuaçu)
- Em palavras de origem africana (caçula, cachaça, miçanga, lambança, cangaço e jagunço)
G e J
Em relação ao uso do G e J é seguida a mesma tendência. Além de ter várias regras, há, ainda, diversas exceções. Confira quais são as principais e nunca mais erre a grafia dessas palavras.
- Nas palavras originárias do latim e do grego, normalmente, o G da Língua Portuguesa é equivalente.
Latim
gestu – gesto
gelu – gelo
agitare – agitar
Grego
gymnastics – ginástica
hégemonikós – hegemônico
Em relação ao J, ele não existe nem no latim e nem no grego clássico. Portanto, ele ocorre quando há consonantização do I semiconsoante latino ou palatalização do S + I, ou do grupo DI + Vogal.
Casos em que o G é utilizado:
- Quando a palavra é derivada de outras palavra grifada com G (faringite – faringe e selvageria – selvagem)
Algumas exceções são coragem – corajoso e viagem – viajar.
- Quando as palavras terminam nos sufixos “ágio”, “égio”, “ígio”, “ógio” e “úgio” (refúgio, prestígio e sacrilégio)
- Utiliza-se G quando os substantivos são terminados em “gem” (sondagem, viagem e passagem)
Exemplos de exceção são as palavras pajem e lambujem.
- Quando os verbos são terminados em “ger” e “gir” (eleger e rugir)
- Depois de R (divergir e submergir)
Casos em que o J é utilizado:
- Nas palavras derivadas de outras que são grafadas com J (lojista – loja, gorjeta – gorja).
- Nos verbos terminados em “jar” (arranjar, encorajar, enferrujar)
- Palavras de origem árabe (azulejo, berinjela, jaleco, jarra, laranja)
Algumas exceções são giz, girafa e álgebra.
- Em palavras de origem tupi (jururu, maracujá, jerimum, marajó, jibóia)
Sergipe é uma exceção.
- Palavras que possuem origem africana (jabá, Iemanjá, acarajé, jiló, Jurema)
Mal e mau
É uma das dúvidas mais frequentes, que as duas palavras são muito parecidas. E aí, na hora de escrever, o correto é mau ou mal? Vamos aos esclarecimentos?
Neste caso é um dica que é praticamente infalível. Na hora da dúvida, basta colocá-la em prática.
A palavra mal é oposto de bem, enquanto a palavra mau é oposto de bom. Basta fazer a substituição para perceber se o uso é correto, ou não.
Vale lembrar, ainda, que quando estiver acompanhado de artigo ou pronome, mal será um substantivo.
- Exemplo: Sofro desse mal desde os dez anos de idade.
Porém, quando modificar um verbo ou adjetivo, mal será um advérbio.
- Exemplo: Chegou em casa e mal olhou para o marido.
Na direção contrária, a palavra mau sempre é usada como um adjetivo.
- Exemplo: Os maus exemplos não devem ser seguidos.
Uso dos porquês
Essa questão tira o sono de muitos concurseiros, e não é para menos. Há quatro categorias distintas e cada uma delas com um uso. Entretanto, depois de entender com elas funcionam, o uso dos porquês se tornará muito mais simples.
Porque (junto e sem acento) – é usado basicamente em respostas e explicações, indicando a causa ou explicação de algo. Pode ser substituído por: pois, uma vez que, dado que, visto que, etc.
- Exemplo: Não vou ao shopping porque estou me sentindo mal.
Por que (separado e sem acento) – é usado para fazer perguntas ou para fazer relação com um termo anterior da oração. Confira algumas formas de substituí-lo: por qual razão e por qual motivo.
- Exemplo: Por que você não cumpriu o acordo de venda?
Por quê (separado e com acento) – é usado no final de frases interrogativas, podendo ser seguido tanto por ponto de interrogação, quanto por ponto final.
- Exemplos: Minha irmã foi embora sem que eu soubesse o por quê.
Você deixou o caderno em casa por quê?
Porquê (junto e com acento) – é usado para indicar o motivo, razão ou causa de alguma coisa. Sempre aparece acompanhado de artigos definidos ou indefinidos, mas pode aparecer, ainda, acompanhado de numeral ou pronome.
- Exemplo: Gostaria de saber os porquês de eu não ter sido convidada para a festa do condomínio.
Resumindo:
Porque – Usado em respostas.
Por que – Usado no início de uma questão.
Por quê – Usado no fim de perguntas.
Porquê – Usado como substantivo.
Crase
Em Língua Portuguesa poucas coisas são tão temidas, e erradas, quanto a crase. Isso porque seu uso é normatizado por uma série de regras, que facilmente podem causar confusão nos concurseiros.
Além de tudo, é um assunto extremamente cobrado em provas. Sendo assim, é muito importante estar com todas as normas na ponta da língua. Vamos lá?
- Nas situações a seguir, NÃO há uso de crase:
Antes de substantivos masculinos: Prefiro andar a pé.
Antes de verbos: O engenheiro está começando a planejar meu banheiro.
Antes de grande parte dos pronomes: Desejamos a todos boas festas.
Entretanto, há algumas exceções, como na frase: Esta é a notícia à qual me referi.
Em expressões com palavras repetidas, ainda que elas sejam femininas: Fiquei face a face com meu ex-marido.
Antes de palavras femininas no plural e antecedidas pela preposição a: As bolsas de estudo foram dadas a alunas goianas.
Entretanto, se os substantivos femininos forem especificados por meio do uso do artigo definido “as”, há uso de crase em função da contração do artigo com a preposição a , portanto a + a = às: As bolsas de estudos foram concedidas às alunas goianas.
Antes de numeral, com exceção das horas: O shopping fica a três quilômetros daqui.
- Há uso de crase nas condições a seguir:
Antes de palavras femininas, em construções de frases com substantivos e adjetivos que pedem a preposição a, e ainda, com verbos cuja regência é feita com a preposição a, indicando a quem algo se refere. Alguns exemplos são pedir a e agradecer a: Minha irmã nunca está atenta à aula.
Em várias expressões adverbiais, locuções conjuntivas e prepositivas: à noite, à exceção de, à semelhança de, à deriva, às avessas, às vezes, à toa, à parte, etc.
Pode ocorrer crase antes de um substantivo masculino se houver uma palavra feminina subentendida na frase. Um bom exemplo são as locuções à moda de e à maneira de.
Antes da indicação exata e determinada de horas: Preciso acordar todos os dias às cinco da manhã.
Vale lembrar que em caso de uso das preposições para, entre, desde e após, não ocorre o uso da crase: O salão só abre após as duas da tarde.
Em várias expressões de modo ou circunstância, como fator de transmissão de clareza na leitura: Estudei a distância – Estudei à distância.
Nos casos a seguir, o uso da crase é facultativo.
- Antes de pronomes possessivos;
- Antes de nomes próprios femininos;
- Antes da preposição até antecedendo substantivos femininos.
Casos específicos:
- Antes de nomes de localidades;
- Antes da palavra terra;
- Antes da palavra casa;
Palavras homônimas e parônimas
Essas palavras são importantes em concursos públicos pelo fato de aparecerem muito em questões que são “pegadinhas”. Sendo assim, fique atento a elas e evite perder pontos em perguntas simples. Confira as definições.
Palavras homônimas – são aquelas palavras que possuem exatamente a mesma pronúncia mas que têm significados e escritas diferentes.
cerrar (fechar) – serrar (cortar)
laço (nó) – lasso (gasto, cansado)
cheque (ordem de pagamento) – xeque (jogada de xadrez)
Palavras parônimas – tanto a pronúncia, quanto a escrita são parecidos. Contudo, o significado é diferente.
comprimento (extensão) – cumprimento (saudação)
emergir (vir à tona) – imergir (mergulhar)
tráfego (trânsito) – tráfico (comércio ilícito)
Novo acordo ortográfico
Apesar de datar de 1990, somente a partir de 2016 é que o tema começou a tirar o sono dos concurseiros. O novo acordo ortográfico está em vigor desde 2009, porém, foi em 2016 que o uso das novas regras tornou-se obrigatório. Confira quais foram as principais alterações.
- Mudança no alfabeto
Acréscimo das letras K, W e Y. Agora, oficialmente, o alfabeto brasileiro conta com 26 letras. Na prática, essas letras são usadas em nomes próprios e nas abreviaturas de símbolos internacionais, tais como km (quilômetro) e kg (quilograma).
- Trema
Uma das principais mudanças do novo acordo ortográfico foi a queda do uso do trema. Agora, seu uso ocorre apenas em nomes próprios estrangeiros e derivados, a exemplo de Müler.
- Acentuação
– Fim da acentuação dos ditongos abertos “ei” e “oi” das palavras paroxítonas, ou seja, aquelas que possuem acento tônico na penúltima sílaba.
Exemplos: jóia – joia, idéia – ideia e assembléia – assembleia.
– Fim da acentuação para os ditongos oo e ee nas palavras paroxítonas.
Exemplos: veêm – veem, voô – voo e enjoô – enjoo.
– Abolição do acento agudo nas vogais i e u quando aparecem depois de ditongo.
Exemplo: feiúra – feiura.
– O acento diferencial foi abolido de diversas palavras, que agora devem ser analisadas dentro do contexto da oração.
Exemplos: pára – para, pêlo – pelo e pêra – pera.
O acento diferencial foi mantido em alguns casos, como por exemplo tem/têm e pode/pôde.
- Hífen
As regras de hifenização sofreram diversas alterações por conta do novo acordo ortográfico. Conheça os principais casos.
Não há uso de hífen quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa com as letras r ou s, que neste caso, serão duplicadas.
Exemplo: auto-retrato – autorretrato.
Vale lembrar que o hífen será mantido na ligação dos prefixos hiper, super e inter com elementos iniciados por r.
Exemplos: inter-regional e super-resistente.
O hífen é usado quando o prefixo termina com a mesma vogal que começa o segundo elemento.
Exemplo: antiinflamatório – anti-inflamatório.
Ao contrário, não se usa hífen quando quando o prefixo termina em vogal diferente da que começa o segundo elemento.
Exemplo: auto-estima – autoestima.
Ainda que o segundo elemento se inicie com a vogal “o”, não se usa hífen em palavras prefixadas por co.
Exemplo: cooperar.
Não há uso de hífen em palavras composta que, através do uso, formam uma unidade.
Exemplo: manda-chuva – mandachuva.