Vinte e cinco dias! Este foi o tempo disponível para que Marilene Lopes, moradora de Brazlândia (DF), se preparasse para o concurso do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF). A notícia foi publicada pelo G1 em 2013 mas vale a pena relembrar, ex-catadora de latinhas, atualmente, é lotada como técnica judiciária no órgão e relembra os duros tempos de fome e privação pela qual ela e a família passaram mas, que não a impediram de realizar o sonho de um futuro melhor.
Mãe de quatro filhos, Marilene já foi doméstica e agente de saúde, mas, perdeu os dois empregos devido às faltas constantes para cuidar das crianças. Felizmente, conseguiu deixá-las em uma creche e, para levá-las, comprou um carrinho de mão a fim de não sujarem os pés. Assim, aproveitou o equipamento para juntar latinhas que encontrasse pelas ruas e que pudessem ser revendidas, garantindo algum sustento para a família.
No entanto, o dinheiro obtido ainda não era suficiente, pois, chegando a receber R$50,00 por mês, passou por sérias privações, precisando cozinhas, às vezes, com gravetos, por não ter condições de comprar um bujão de gás. “Nunca tinha nem fruta para comer. Eu me lembro que passei um ano com uma só calcinha. Tomava banho, lavava e dormia sem, até secar, para vestir no outro dia”, lembra Rosilene.
A mulher, porém, viu as chances de um futuro melhor ao avistar, em uma banca de jornal, o anúncio sobre o Concurso TJ-DF 2001, com oportunidades para cargos de ensino médio e superior. Como precisava fazer uma cirurgia para correção de lábio leporino, usou os 25 dias de repouso para se dedicar aos estudos. “Minha mãe comprou uma apostila para as minhas irmãs, aí dei a ideia de formarmos um grupo de estudo”, recorda.
Esperando pelo quinto filho em uma gravidez de risco, Rosilene estudava 12h por dia. As provas foram aplicadas três dias após o parto e a mulher só foi liberada para realizá-las caso retornasse para o hospital até as 18h30. Devido ao trânsito, Lopes se atrasou e a médica chegou a chamar a polícia, acusando a nova mãe de abandono. A enfermeira, felizmente, explicou o caso às autoridades para que Rosilene não fosse mais procurada. O esforço valeu a pena e a ex-catadora foi classificada.
Rosilene ocupa o cargo de técnica judiciária e, nos 16 anos de experiência, já passou por diversas varas do judiciário do Distrito Federal. Aguerrida, arranca elogios de colegas e superiores, que admiram sua força de vontade em superar os desafios da dura história de vida. Desafios, estes, que ainda a atingiram após a posse quando, ao separar-se do marido, precisou dividir o carro e o apartamento adquiridos com o salário do Tribunal.
Porém, mais uma vez, Rosilene superou obstáculos. Enquanto morava com os filhos na casa de um amigo, na Estrutural, adquiriu um apartamento em Águas Claras, além do consórcio de um carro, com uma de suas irmãs (todas, também, concursadas), recebendo remuneração de R$ 7 mil.