As primeiras testemunhas do esquema denominado Máfia dos Concursos foram ouvidas pela Justiça do DF na tarde desta quinta-feira (14). A quadrilha foi desarticulada graças à ação da Operação Panoptes, deflagrada em agosto deste ano. A audiência teve início às 15h, após ser adiada em um dia devido à falta de escolta para os réus.
Um dos assuntos mais inquiridos pelo juiz e pela promotora do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) foram as técnicas utilizadas pela quadrilha para fraudar certames. Segundo depoimentos recolhidos de delegados e testemunhas, pessoas eram chamadas para fazer parte das provas para consolidar respostas em um único texto.
Estas eram enviadas aos candidatos que contratavam o esquema por meio de celulares escondidos nos banheiros. Em concursos realizados pelo Cebraspe, outra técnica, também, era utilizada. Nela, um funcionário da empresa retirava papéis para preenchimento de gabaritos antes da digitalização que, depois, eram preenchidos e reenviados ao Centro.
Segundo o delegado Maurílio Coelho Lima, os rastros deixados por essa última técnica eram grandes. Isso porque funcionários davam por falta das folhas o que gerava um relatório com o número e nomes de seus respectivos candidatos. Coincidentemente, estes eram aprovados com boas colocações nas provas.
Os interrogatórios mais longos – e marcantes foram os prestados por um médico que participou do esquema para que uma das filhas passasse no vestibular, por um candidato que contratou o esquema e do próprio Maurílio, cujas declarações contradisseram os depoimentos dados pelas duas primeiras testemunhas.
Segundo o médico, a contratação do esquema se deu para que uma das filhas conseguisse passar no vestibular para Medicina da Unb. Maurílio afirma que investigações apontam o favorecimento das duas filhas do profissional. Um candidato ao concurso da Terracap afirmou que suas frequentes idas ao banheiro durante a prova eram devidas a um problema de saúde.
O delegado se opôs à declaração, afirmando o flagrante da testemunha ao telefone com um dos réus, quando assumia a “adrenalina” sentida no fato de enganar os fiscais de prova sob a alegação de problemas de hemorroida. Os outros depoimentos recolhidos até após as 20h foram mais rápidos, ouvidos por candidatos ou pessoas próximas aos suspeitos.
As investigações chegaram aos criminosos a partir de investigações anônimas que flagraram o primeiro candidato envolvido em um concurso para o Corpo de Bombeiros. A partir daí, foram feitas escutas telefônicas, acompanhamento dos suspeitos e o catálogo dos candidatos que contratavam o esquema como foram de ajuntamento de provas.
Os réus são Hélio Garcia Ortiz (apontado como líder do esquema), Bruno de Castro Garcia Ortiz (filho de Hélio), Johann Gutemberg dos Santos e Rafael Rodrigues da Silva Matias, que responderão por fraude em concursos públicos, associação criminosa e falsificação de diplomas. As audiências referentes ao caso continuam a partir das 14h desta sexta-feira (15).