Entrevista: Érika França, aprovada para agente de polícia e concurseira

Acompanhe a entrevista com a servidora que, atualmente, é lotada como agente de polícia substituta, mas, persiste no sonho de chegar à carreira de delegada



A luta por uma vaga na carreira pública é árdua e, por vezes, quase vencido pelo cansaço, o concurseiro acaba tentado a desistir. Mas, os casos de sucesso são muitos, assim como o estímulo para não deixar de lado a expectativa de passar no concurso dos sonhos.

Conheça a história da Érika França, empossada como agente substituta de Polícia Civil do estado de Goiás (PC-GO). A servidora nos conta um pouco de seu histórico, rotina e o que faz para chegar à carreira desejada: delegada de Polícia.

Quando iniciou seus preparatórios e quanto tempo até passar no primeiro certame?
Eu terminei minha faculdade de Direito em 2015. Me formei, mais ou menos, em março de 2016, e iniciei meus estudos em meados de abril e maio. Desde então, já estava focada nas carreiras policiais, sempre tive muita afinidade com a área. Meu foco sempre foi concurso para Delegado. Só que, antes de surgir um concurso para a carreira aqui, em Goiás, abriram vagas para agente e escrivão da PC-GO. A prova foi em outubro e o resultado saiu em novembro. Então, foi um período de seis meses até passar nesse primeiro certame.

Quais concursos já tentou? Em quantos conseguiu aprovação?
Desde o período em que comecei a estudar, 2016, até hoje, só fiz três provas: agente de polícia, que fui aprovada e foi meu primeiro concurso; para Delegado da PC-GO e Mato Grosso (PCJ-MT) – por sinal, dois concursos que estão suspensos. Consegui aprovação no primeiro. No segundo e terceiro, não consegui.

As reprovações nos dois concursos te desmotivaram ou serviram de incentivo para os próximos?
O fato de ter sido reprovada não me desmotivou em nenhum momento porque o concurso de delegado exige estudo a longo prazo. Não existe nenhum milagre. Então, eu tenho um objetivo a longo prazo. Estipulei uma meta, uma idade até eu passar – até, mais ou menos, 30 anos. Se eu passar para delegado antes disso, eu estou feliz. Mas, eu tenho seis anos aí pra estudar. Para alguns, pode parecer estranho, mas, eu me sinto mais confortável colocando prazos longos. Durante esse meu período de estudo, me sinto menos pressionada e mais tranquila para estudar. Não me sinto desesperada quando abre um edital, não o enxergo como o último da minha vida, mas, como mais um que vou tentar. Se não der certo, vou continuar.

Durante seu tempo de preparo, precisava trabalhar e estudar ou conseguia se dedicar, em tempo integral, aos estudos?
Quando fui aprovada no meu primeiro concurso, estava em casa, só estudando. Tive apoio familiar nesse propósito, apesar de não vir de uma família de classe média. E aí, houve, até, um certo dilema de assumir o concurso de agente, ou não. Afinal, trabalhar e estudar, ao mesmo tempo ou, desistir do concurso de agente e continuar estudando para o de delegado? Eu decidi assumir. Então, durante um ano e meio, mais ou menos, fiquei em casa, estudando e, nos últimos cinco, seis meses, tenho conciliado estudo e trabalho. Isso tem sido um desafio! É uma fase nova, uma adaptação, exige que você tenha uma nova perspectiva e outra forma de visualizar o tempo que tem para o estudo.

Quais as principais estratégias de estudo que utilizou durante sua preparação?
Quando concluí a faculdade, saí muito despreparada, inclusive, nas matérias substanciais para provas relacionadas às carreiras policiais (Penal, Processo Penal, Constitucional, Administrativo). Então, por não saber por onde começar, busquei e contratei um coaching. Foi a melhor coisa que fiz. A partir dele, aprendi a estudar, a como responder questões, fazer provas, quais são os materiais corretos no estudo para a carreira de Delegado. Isso me deixou muito mais segura e me fez construir uma maturidade nos estudos que, sozinha, não construiria. Para mim, essa foi a principal estratégia. Quando você está perdido e não sabe por onde começar, busque um coaching, uma ajuda. Foi o melhor investimento que fiz. Nunca comprei um livro depois que comecei com o coaching, nunca gastei dinheiro com algo que não soubesse que iria ser, seguramente, aplicado em um estudo de qualidade e, corretamente, voltado para a carreira policial.

O que diz da experiência que tem vivido nos últimos meses?
Embora esteja concursada, este não é meu objetivo final. Decidi assumir o cargo de agente no intuito de exercer um pouco da atividade investigativa (que, por sinal, é muito instigante), para conhecer a realidade de uma delegacia, ver se, realmente, é a área na qual quero trabalhar e dedicar uma vida. Até o presente momento, não me arrependo. Os últimos cinco meses têm sido muito proveitosos. A atividade policial tem me deixado muito satisfeita e me permite formar três anos de prática. Alguns concursos de delegado vêm exigindo três anos de prática policial. Então, estou unindo o útil ao agradável, adquirindo experiência e inteligência emocional. Inclusive, eu acho isso fundamental, principalmente, quando você nunca trabalhou antes, que era o meu caso. Afinal, saí da faculdade e comecei a estudar para concursos. Nunca tinha trabalhado e isso é importante. Por fim, é uma forma de me incentivar a não desistir da carreira de delegado.

Atualmente, está lotada em delegacia da PC-GO. Pode nos explicar, brevemente, como é sua rotina como agente?
Na carreira policial, não há rotina, e eu acho que isso é o mais bacana. Normalmente, quando você trabalha em expediente, você até tem hora para entrar e sair, mas, nem sempre. Às vezes, acontecem muitas coisas que podem te levar a dedicar mais tempo na delegacia ou investigando na rua. Talvez, isso seja o que me faz gostar tanto porque não me vejo em um local em que tenha hora para entrar, sair, almoçar, fazer isso, aquilo, tudo “cronometradinho” sabe? Dentro de uma delegacia, a gente vivencia o inesperado porque, por mais que a gente aprenda as técnicas de investigação e o básico da atividade policial, não sabemos o alvo com o qual vamos trabalhar. É produção externa, vamos trabalhar de acordo com a demanda que está acontecendo na sociedade. Eu gosto disso, não me vejo trabalhando, por exemplo, dentro de um tribunal onde, basicamente, quando você vai mexer com os processos, é a mesma coisa, o dia inteiro. Gosto da atividade policial por isso, porque, a cada dia, é algo diferente, inesperado.

Voltando aos concursos suspensos, como enxerga as fraudes nas provas, a assistência dada aos candidatos prejudicados por essas suspensões?
É uma situação complicada, viu, de indignar. A palavra é essa, indignação. Há quase uma década, vemos reiteradas situações relacionadas a fraudes. Violações de prova, gabaritos que são vazados, pessoas que se utilizam de poderio financeiro, cargos públicos e privados nas empresas organizadoras para poder se beneficiar. Então, não só eu, mas, todos os concurseiros temos ficado muitos tristes com isso porque dedicamos tempo e dinheiro. Aí, vemos essa situação de tudo indo por água abaixo, sabe?

Em Goiás (Concurso Delegado PC-GO), até não tive prejuízos porque fiz a prova aqui, em Goiânia. Mas, no Mato Grosso, já tive prejuízos financeiros. A notícia de vazamento saiu, antes mesmo, de fazermos a prova no período da tarde, porque, fizemos as provas objetivas pela manhã e, as discursivas, à tarde. Então, foi terrível a sensação ter feito uma prova, me dedicado, dado o meu melhor, mas, com a certeza de que aquilo ali parecia não dar em nada. O de Goiás, sei que vai ser cancelado e eu vou refazer, com certeza. Inclusive, foi confirmada outra banca, que é a UEG (Universidade Estadual de Goiás).

E aí, surge uma insegurança. Com o Cespe, temos visto diversos problemas e a sensação de impunidade porque nada acontece. Com a UEG, não é muito diferente. Em 2013, tivemos um problema muito grave, a prova para Delegado, inclusive, teve que ser reaplicada em virtude de fraude. Parece que essa situação não acaba! E, quem sai perdendo, também, é a Administração Pública porque é um prejuízo ter que aplicar essas provas todas, de novo. Não tem lotação, o estado inteiro precisando de pessoas e, sei que não é a realidade, apenas, de Goiás. Outros estados, também, precisam de delegados. E, enquanto isso, a população fica a mercê pq não lota, não termina o concurso. É muito complicado!

A insegurança quanto à possibilidade de fraude nos certames não te desanima?
A situação é que, independente disso tudo, eu não vou deixar de fazer os concursos que são do meu interesse. Não tem como , a gente não tem essa opção. Não é só uma banca, são várias que apresentaram problemas e não posso perder as oportunidades que surgirem em virtude disso. A luta tem que ser, talvez, por uma providência legislativa, às vezes, o Poder Legislativo tentando dar, pelo menos, uma Lei Geral dos concursos. Ou, então, o próprio Executivo deixar de contratar essas empresas. Mas, o que a gente vê, não é isso. Aí, eu fico mais nessa esperança de lutar para que haja uma melhora, uma mudança, maior seriedade. Agora, deixar de fazer por causa dessa falta de credibilidade, não tem jeito porque a gente precisa fazer esses concursos. Não só eu, mas, todos os concurseiros, temos interesse em sermos aprovados.

Quais dicas você dá para quem está na luta por uma vaga na carreira pública?
Aos que almejam uma vaga na carreira pública, a primeira dica que dou é foco. Você tem que saber o que quer da vida, qual seu objetivo. Não adianta sair “dando tiro para tudo quanto é lado”. Isso não vai dar certo. O segundo ponto é não esperar o edital abrir. A partir do momento em que já tem um foco, sabe para qual área você quer se dedicar, então, o estudo precisa ser começado de hoje. O terceiro é saber estudar. Se tem dificuldade, procure um profissional que saiba dar esse direcionamento. Isso é fundamental e recomendo o coaching. Acho que contribui, bastante, para quem está começando, que era o meu caso.

O quarto é não se preocupar tanto com as horas de estudo, mas, com a qualidade. Se você tem duas horas para estudar, dedique-se, incessantemente, a essas duas horas. E, aí, acabamos no próximo ponto, a regularidade. Se estuda duas horas por dia, o que interessa é a regularidade. Ao longo de um período, você vai reunir muito conhecimento e é isso que muitas pessoas não enxergam. Às vezes, acham que, para passar em um concurso, precisam estudar 12h, 14h (por dia). Eu não concordo. Você precisa ter rotina, organização nos seus estudos. E eu acho que é o ponto final: organização.

Reunindo esses elementos, não há outro caminho que não seja a aprovação. É nisso que, também, me apego. Tento basilar minha vida nisso. Tenho minha rotina, não deixo de fazer atividade física – quem quer carreira policial tem que estar, sempre, com o físico preparado porque passamos pelo teste de aptidão física.

Além disso, como concurseiro (a), você precisa de uma válvula de escape porque o estudo é cansativo e desgastante. Esteja próximo(a) a familiares e amigos, não deixe de sair, só não saia em excesso. Tudo feito na dosagem correta, é saudável. Tenha boa alimentação, se alimente na hora certa. Procure um ambiente de estudo favorável, onde se sinta confortável e saiba que as pessoas não vão te atrapalhar. Tenho certeza de que, quem seguir essas orientações, vai ser aprovado. Tem que persistir, ter paciência. Acho que esses são os segredos para quem é concurseiro.




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