O clima brasileiro está “enlouquecendo”. Essa é a percepção de muitos que vêm enfrentando ou observando eventos climáticos intensos e inesperados, como a seca histórica no Rio Grande do Sul e as enchentes em Minas Gerais e na Bahia.
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O ano de 2021 foi um dos mais quentes vividos no planeta, segundo pesquisa da Organização Meteorológica Mundial. Já o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) afirma que as temperaturas no Brasil estão ultrapassando a média histórica desde os anos 90.
O aumento das temperaturas na última década intensifica a preocupação dos especialistas com o aquecimento global e emissão dos gases do efeito estufa na atmosfera.
Segundo Ricardo de Camargo, professor de meteorologia na Universidade de São Paulo (USP), o fenômeno que atualmente está causando a variabilidade climática é o El-Niño Oscilação Sul na fase negativa, também conhecido como La-Niña. Sua característica principal é reduzir a temperatura da superfície do Oceano Pacífico Tropical Central e Oriental.
O resultado dessa ação no Brasil foi o aumento do volume de chuvas sobre o Nordeste e leste da Amazônia, além de uma seca anormal na região Sul. No atual cenário, é difícil prever o tempo, segundo o professor.
Aquecimento global
Outro ponto importante que explica o clima “maluco” no país é o aquecimento global. “Os efeitos do aquecimento de 1,1ºC já estão aí: mudanças nos padrões de chuva, na frequência e na intensidade de eventos extremos, e assim por diante. Gosto de enfatizar que sim, tende a piorar a instabilidade, mas a gente tem que tomar vergonha na cara e parar de culpar ‘o clima’”, explica Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa.
Segundo ela, é possível reverter os piores impactos ainda nesta década se o mundo focar em descarbonização. O Brasil emitiu em 2021 2,42 bilhões de toneladas brutas de CO2e em 2021, alta de 12% frente ao ano anterior.
Além disso, 81% das emissões de metano causadas por incêndios florestais estão ligadas ao desmatamento, conforme pesquisa de entidades climáticas. A Amazônia lidera a lista, já que concentra boa parte dos estoques de carbono e dos desmatamentos.
Ainda dá tempo
Para reduzir o aquecimento global a cerca de 1,5 °C, as emissões globais de gases de efeito estufa teriam que alcançar o pico “antes de 2025, o mais tardar, e ser reduzidas em 43% até 2030”, afirma o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
Segundo Unterstell, o problema pode ser resolvido com investimento no novo. “E o investimento em ciência, inovação e empreendedorismo é fundamental para que a gente consiga se adaptar a esse mundo mais quente e de clima mais instável. Ainda não vi isso ser feito com seriedade no Brasil. É hora”, completa.