Aconteceu nesta semana a LAIC (Latin America Investment Conference), evento promovido pelo Credit Suisse em São Paulo com importantes nomes do cenário econômico e político. Em entrevista a Thiago Salomão, jornalista da Money Times, gestores de multimercados falaram da cautela que observam no mercado brasileiro atual. Os porta-vozes representam mais de R$ 110 bilhões de AuM (ativos sob gestão), distribuídos em 5 empresas gestoras.
Bruno Coutinho, gestor da Mar Asset (R$ 2,6 bilhões em ativos administrados) disse ao repórter que é difícil entender os atuais movimentos de Lula. Agora era a hora de desacelerar a economia, mas as reações de Lula mostram que ele vê a desaceleração como uma ameaça. Dilma cometeu esse erro e apertou todos os botões possíveis para evitar o problema da lentidão. Acabou como sabemos.
Embora a PEC Transitória tenha sido aprovada, esse dinheiro ainda não foi gasto. É como se Lula tivesse parado no rio Rubicão e a PEC fosse a ponte que ele construiu para atravessá-lo. Mas ele ainda não cruzou a ponte. Há um debate sobre se ele vai gastar esse dinheiro. Mas como disse Tancredo Neves, “Ninguém chega ao Rubicão para pescar”.
André Raduan, gerente da Genoa Capital (R$ 13,9 bilhões AuM) disse que o estrangeiro olha para o Brasil de forma menos profunda do que o investidor local. Além disso, tivemos os casos do Chile e do México que fizeram bons ajustes. Assim, para o estrangeiro, a retórica é mais séria do que a realidade. Estou no meio do caminho: nem tão otimista quanto o estrangeiro, nem tão pessimista quanto o local.
Felipe Guerra, gestor da Legacy Capital (R$ 27,9 bilhões AuM) disse que o prêmio de risco embutido nos ativos brasileiros é muito baixo, dado o cenário de baixo crescimento e alta inflação. O estrangeiro está comprando com base na reabertura da China, ou seja, mesmo que façamos muita besteira, vamos ganhar dinheiro porque somos uma grande fazenda. Mas quando o cenário virar, vai ser péssimo aqui e, nesse cenário, a porta de saída dada pela liquidez será bem mais estreita. Achamos perigoso. Vamos apertar muitos botões de “excepcionalizações”, anunciar muitas medidas excepcionais que vão pressionar a inflação e tirar o efeito da política monetária. Já sabemos o final da história.
Daniel Leichsenring, economista-chefe da Verde Asset (R$ 29 bilhões de AuM) disse que o melhor que podemos esperar é continuar medíocre. Isso já está sendo otimista hoje. Se perdermos a âncora da política monetária, estaremos na rota da Argentina ou da Venezuela. Aumentar a meta de inflação significa “quero mais inflação”. Isso terá que fazer com que o Banco Central suba mais os juros. Isso vai gerar ainda mais críticas, que podem tirar a autonomia do Banco Central, mesmo que ele continue ‘independente’.
Rodrigo Azevedo, gerente da Ibiuna Investimentos (R$ 36,9 bilhões AuM) disse que tudo o que vimos desde a eleição é que não teremos um Lula pragmático. Parece que estamos indo para um Dilma 3. Isso criou uma dicotomia entre “local x estrangeiro”. O investidor local olha e diz: já sei onde isso vai me levar. Por outro lado, o estrangeiro olha e diz: vou investir porque o país é grande e tem potencial.