A Petrobras encerrou na semana passada a política de Paridade de Preço de Importação (PPI), sistema que atrelava os preços dos seus combustíveis ao mercado internacional. Ao anunciar a mudança, a empresa informou que a gasolina vendida às distribuidoras teria redução de R$ 0,40 por litro.
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Com a decisão, o consumidor pagaria cerca de R$ 0,29 a menos por litro de combustível nos postos, mas isso não ocorreu. Segundo levantamento do Autoesporte, a redução não chegou a R$ 0,05 em boa parte dos postos brasileiros.
O que explica essa diferença entre o desconto prometido e o preço atual da gasolina? Entenda a seguir.
Por que o reajuste não chegou aos postos?
Segundo Rodrigo Zingales, presidente da Abrilivre, a gasolina do tipo A que recebeu o desconto é o produto “puro”. Para chegar ao combustível vendido nos postos, ele ainda precisa ser misturado com 27% de etanol anidro, ou seja, o desconto de R$ 0,40 é diluído no produto final.
Para verificar o valor real do desconto, o consumidor deve multiplicar R$ 0,40 por 0,73, que é a quantidade de gasolina tipo A presente no combustível final. Usando essa fórmula, a redução chegaria a R$ 0,29 nas bombas.
Entretanto, as entidades do setor afirmam que esse desconto “some” não mão das distribuidoras. “Para alguns postos, elas repassam com pouca margem de desconto e para outros vendem com maior desconto”, diz Zingales.
“As distribuidoras não repassaram esse desconto nem no diesel, nem na gasolina. Os postos alegam falta de comunicação (para definir os preços) e os distribuidores respondem que o ‘preço é livre’”, completa José Alberto Paiva Gouveia, presidente do Sincopetro. Para ele, é imprudente anunciar um corte tão grande porque “os R$ 0,40 de desconto não vão chegar nunca”.
Novas mudanças
O presidente do Sincopetro avalia que os brasileiros poderão observar um desconto mais nos próximos dias caso as distribuidoras façam o repasse com mais transparência. Por outro lado, o presidente da Abrilivre acredita que isso ainda pode demorar.
“Quando tem uma queda do preço na Petrobras, às vezes demora para ser sentido no bolso do consumidor porque a distribuidora e o posto ainda têm estoque do combustível comprado com o preço antigo e precisam vendê-lo com o valor mais caro, anterior à redução”, defende.
A Federação Nacional das Distribuidoras de Combustíveis, Gás Natural e Bicombustíveis (Brasilcom) não quis comentar o assunto, afirmando apenas que “não se manifesta sobre formação de preços de combustíveis, pois essa questão fica a critério de cada distribuidora, sem interferência da Brasilcom”.
Impacto da nova política
A nova política de preços da Petrobras tem como foco reduzir a volatilidade dos preços, mas é preciso considerar que o valor da gasolina é influenciado por outros custos além da realização da empresa. Um deles é o ICMS, imposto estadual que será unificado no país a partir de junho.
Até lá, cada estado decide sua própria alíquota. A mudança deve elevar os preços em boa parte dos estados brasileiros, como em São Paulo, onde o imposto passará de R$ 0,89 para R$ 1,22 por litro.