Os produtores de café estão preocupados com o aumento das queimadas nos últimos anos, que coloca a produção do grão no Brasil. Segundo Felipe Barretto Croce, produtor do estado de São Paulo, agosto e setembro são meses são os meses ais críticos da temporada de incêndios.
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No interior do estado, uma fazenda de propriedade da família de Croce está à mercê das mudanças no ambiente, que ganham força com o desmatamento da Amazônia. Os 10 hectares de café arábica orgânico sofrem com os dias mais extremos, seja de frio ou calor.
E os meteorologistas não têm boas notícias. Segundo a plataforma Gro Intelligence, a quantidade de dias com temperaturas extremas acima de 34°C nos meses de setembro e outubro (período crítico de floração do cafeeiro) crescerá 10 dias por mês até 2050. A mudança deve afetar profundamente a produção de café no Brasil.
O país produz duas espécies do grão, robusta e arábica, sendo a segunda mais suscetível às mudanças climáticas. Temperaturas acima de 30°C podem provocar anormalidades e degeneração do produto, uma ameaça constante em meio a um cenário de aumento nas médias.
“Nós temos momentos que era para estar seco, e está chovendo. O contrário também acontece. E a planta não sabe como reagir. Ela quebra totalmente a sua sequência lógica. A planta tem flor, chumbinho [frutos em estágio inicial], café maturado, café seco, tudo ao mesmo tempo. Isso é um horror”, diz José Oscar Ferreira Cintra, fazendeiro de café.
O resultado é uma maturação desigual do grão, que fica com menos qualidade e sabor, além de mais suscetível a doenças.
Adaptar para sobreviver
Segundo dados do IBGE, cerca de 78% de todo o café no Brasil é produzido por pequenas fazendas, que terão que se adaptar à nova realidade para continuar produzindo. A grande dificuldade é que esse processo pode variar, além de não garantir a sobrevivência da cultura em todas as regiões.
A aposta mais frequente é a irrigação durante os períodos mais secos, mas a gestão dos recursos hídricos também preocupa. Outra técnica que tem se mostrado positiva é o sombreamento, que pode reduzir a temperatura do ar em 0,6°C, além de promover outros benefícios.
Outras pesquisas focam no melhoramento genético para que as plantas se tornem mais resistentes ao clima. “O melhoramento genético é desenvolver plantas mais adaptadas a temperaturas estresses. Essa provavelmente é a técnica mais adequada, só que ela leva um tempo de desenvolvimento, pelo menos quinze anos”, diz o agrometeorologista Jurandir Zullo Junior.