Não é raro que a tecnologia revolucione setores da nossa sociedade, e dessa vez, ela promete um avanço significativo na área da saúde mental. Imagine se pudéssemos identificar mudanças de humor em pessoas com bipolaridade antes mesmo de elas se manifestarem de forma mais grave? Esse é o potencial oferecido por uma pulseira inteligente em estudo por pesquisadores espanhóis.
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No âmbito do 36º Encontro Anual do Colégio Europeu de Neuropsicofarmacologia (ECNP), pesquisadores do Hospital Clínic de Barcelona apresentaram resultados preliminares, ainda não publicados em revistas científicas, que sugerem a possibilidade de rastrear alterações do humor em pessoas bipolares através da medição da frequência dos impulsos elétricos da pele.
A pesquisa se baseou na utilização da pulseira Empatica E4, um dispositivo já disponível no mercado, que foi usado por 38 pacientes com transtorno bipolar e por 19 indivíduos saudáveis.
As descobertas foram intrigantes: “descobrimos que os pacientes com transtorno bipolar na fase deprimida tinham, em média, uma atividade elétrica da pele significativamente mais baixa do que o resto do grupo bipolar e do que os indivíduos saudáveis”, compartilhou o pesquisador Diego Hidalgo Mazzei.
Ele ainda complementou que mudanças no estado de humor desses indivíduos eram detectáveis por alterações na atividade elétrica da pele.
Então, por que isso é tão revolucionário?
Atualmente, identificar as oscilações de humor em pessoas com bipolaridade é um desafio. Muitas vezes, a identificação dessas mudanças depende da percepção subjetiva do próprio paciente, de familiares ou de profissionais de saúde.
Agora, imagine se tivéssemos uma ferramenta objetiva que indicasse quando uma pessoa está entrando em uma fase maníaca ou depressiva? Isso não só facilitaria a vida do paciente e de seus cuidadores, como também poderia possibilitar intervenções mais rápidas e precisas, reduzindo riscos como o de suicídio.
Contudo, é fundamental não se deixar levar apenas pelo entusiasmo inicial. A própria equipe de pesquisa destaca que a tecnologia precisa ser aprimorada e avaliada em um grupo maior de pessoas. “Esse é um estudo observacional exploratório”, enfatiza Mazzei.
E ele complementa: “Precisamos analisar uma amostra maior [de pacientes] e usar o aprendizado de máquina [machine learning] para confirmar as descobertas”.
De forma geral, o avanço proposto por esse estudo é promissor, apontando para um futuro onde a integração entre tecnologia e saúde pode trazer benefícios inimagináveis. Enquanto aguardamos mais resultados e testes, fica a esperança de que, em breve, pacientes bipolares e seus familiares possam contar com mais essa ferramenta no acompanhamento e tratamento da doença.