Uma pesquisa realizada pelo Instituto Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, trouxe uma descoberta alarmante: vestígios de cocaína foram encontrados nas vísceras do tubarão-bico-fino-brasileiro (Rhizoprionodon lalandii). Publicado na revista Science of The Total Environment, esse estudo identificou a presença dessa droga em tubarões de vida livre em todo o mundo, gerando preocupações sobre os impactos ambientais e na saúde humana.
O estudo indica que o aumento do consumo de cocaína no Brasil e o tratamento inadequado de esgotos são fatores que contribuem para a contaminação dos oceanos. Os tubarões, sendo predadores de topo e indicadores do ecossistema, revelam a gravidade da poluição marinha. Essa situação reflete um problema ambiental mais amplo, necessitando de uma ação urgente para preservar essas espécies e proteger a saúde pública.
Tubarões como indicadores ambientais
Imagem: Shutterstock
Os tubarões são considerados indicadores importantes do ecossistema devido à sua posição no topo da cadeia alimentar. Ou seja, sua saúde e comportamento podem revelar muito sobre o estado do ambiente marinho. No estudo conduzido no Rio de Janeiro, 13 tubarões-bico-fino-brasileiro foram analisados e, surpreendentemente, todos apresentaram vestígios de cocaína em suas vísceras.
Essa descoberta ressalta como a poluição, resultante do tratamento inadequado de esgotos e do descarte proposital de drogas no mar, está afetando os tubarões. Além de serem altamente migratórios, esses animais podem acumular poluentes ao longo de suas vidas, servindo como barômetros da saúde oceânica.
A contaminação das águas com cocaína é um reflexo direto da atividade humana. Desta maneira, destaca-se a necessidade de melhorias nos sistemas de tratamento de esgoto e na gestão de resíduos.
Impacto na saúde humana e na pesca
A presença de cocaína em tubarões tem implicações sérias não apenas para os ecossistemas marinhos, mas também para a saúde humana. No Brasil, e especialmente no estado do Rio de Janeiro, o consumo de carne de tubarão é comum. Embora ainda não existam concentrações máximas permitidas de cocaína ou de seu metabólito benzoilecgonina em alimentos, a detecção dessas substâncias é preocupante.
Os tubarões, vendidos sob o nome de “cação-rola-rola”, são uma fonte alimentar significativa. Ou seja, a ingestão de carne contaminada pode representar um risco potencial para a saúde dos consumidores. A situação exige atenção das autoridades de saúde e ambientais para avaliar e mitigar os riscos associados a esse tipo de contaminação.
Pesquisa e próximas etapas
Embora os efeitos da cocaína na saúde dos tubarões ainda não sejam completamente compreendidos, estudos anteriores em peixes ósseos sugerem possíveis alterações na pele e interrupções hormonais. Os cientistas do Instituto Oswaldo Cruz estão determinados a continuar suas pesquisas para entender melhor esses impactos e informar estratégias de conservação mais eficazes.
Além disso, é essencial que mais estudos sejam realizados para monitorar a presença de cocaína em outras espécies marinhas e em diferentes regiões. Afinal, esse conhecimento pode ajudar a desenvolver políticas e práticas mais eficazes para reduzir a poluição dos oceanos e proteger tanto a vida marinha quanto a saúde humana.