A relação entre o sorriso e a fotografia mudou drasticamente desde os primeiros cliques. Nos registros fotográficos do século 19 e início do século 20, a ausência de sorrisos era a norma.
Essa característica peculiar, no entanto, não indicava necessariamente um estado de tristeza; pelo contrário: reflete as complexas interações culturais e tecnológicas da época.
A fotografia, naqueles tempos, era um acontecimento raro, um marco na vida das pessoas. Como aponta o The Guardian, muitos viam a oportunidade de serem fotografados como um momento único, e essa solenidade era transmitida na seriedade das expressões.
A tecnologia da época também desempenhou um papel crucial nessas escolhas estéticas. As primeiras câmeras não toleravam movimentos, por mínimos que fossem.
Então, muitas pessoas receavam até mesmo sorrir ou mexer a cabeça, por exemplo.
Clarice Lispector (à direita) e suas irmãs – Imagem: Folha de S.Paulo/Reprodução
Desafios tecnológicos e culturais
A tecnologia inicial das câmeras exigia um longo tempo de exposição. As reações químicas lentas tornavam cada foto um processo demorado, forçando as pessoas a manterem uma expressão inalterada por vários minutos, como citamos anteriormente, o que inviabilizava a captura de um sorriso espontâneo.
Os retratos de pintura, que antecederam as fotografias, também raramente exibiam sorrisos. Essa tradição influenciou as primeiras fotografias, que herdaram a sobriedade característica dos retratos pintados. Considerava-se que sorrisos eram inadequados para retratos formais.
Padrões culturais e dentição
A historiadora Christina Kotchemidova destacou, em matéria publicada pelo UOL, que códigos sociais exigiam controle rígido da boca.
Além disso, Angus Trumble, da National Portrait Gallery, sugeriu que a saúde bucal precária também desestimulava sorrisos. Dentes ruins ou ausentes eram comuns e eram escondidos.
A singularidade de um sorriso capturado
Em meio a essa seriedade, surge uma imagem intrigante de um homem sorrindo em 1904. Capturada durante a expedição à China do antropólogo Berthold Laufer, essa fotografia desafia os padrões da época. Confira:
Imagem: Berthold Laufer/Biblioteca do Museu Americano de História Natural/imagem nº 336609/Reprodução
Essa foto está preservada na Biblioteca do Museu Americano de História Natural. Ao contrário dos fotógrafos convencionais, Laufer buscava capturar emoções genuínas, resultando em uma imagem notavelmente leve e espontânea.
A evolução das expressões nas fotografias revela a transformação dos padrões culturais e tecnológicos ao longo do tempo. Enquanto as primeiras imagens eram sérias, refletindo as normas sociais e as limitações técnicas, a prática do sorriso nas fotos cresceu com o avanço da tecnologia e a mudança das atitudes sociais.
Esse desenvolvimento destaca as influências dinâmicas que moldaram a história da fotografia ao longo do tempo. E você, costuma rir quando é fotografado?