Enquanto a maioria do mundo comemora o Natal em 25 de dezembro, cerca de 12% da população cristã mundial aguarda até 7 de janeiro. Essa divisão de datas remonta a uma decisão tomada há mais de quatro séculos.
A diferença de datas está enraizada em questões históricas e religiosas vindas da separação da Igreja Católica Romana.
A Igreja Ortodoxa, também cristã e mais situada ao Oriente, optou por seguir um calendário distinto do adotado pela Igreja Católica, que tem sede no Vaticano.
Esse fato explica por que países cristãos ortodoxos, como Rússia e Grécia, além de comunidades na Etiópia e no Egito, celebram o Natal mais tarde.
Apesar de terem um calendário comum no passado, em 1582, o Papa Gregório XIII introduziu o calendário gregoriano a fim de corrigir discrepâncias do antigo calendário juliano.
Porém, a Igreja Ortodoxa rejeitou tal mudança devido a divergências doutrinárias e políticas já existentes naquela época.
Natal tem duas datas de celebração atualmente, graças a uma cisão ocorrida na antiga Igreja Romana – Imagem: reprodução/Masood Aslami/Pexels
O Grande Cisma e a resistência ortodoxa
O Grande Cisma de 1054 dividiu a cristandade em dois ramos: o católico e o ortodoxo. Esse evento histórico foi marcado por diferenças doutrinárias e de liderança, como o reconhecimento do Papa.
A recusa ortodoxa em aceitar o calendário gregoriano foi mais uma expressão dessa separação.
Por mais de quatro séculos, as igrejas ortodoxas seguiram o calendário juliano, que, com o tempo, apresentou um desvio significativo em relação ao calendário solar.
Em 1923, tal diferença era de 13 dias e posicionava o Natal ortodoxo 13 dias após o dia 25 de dezembro.
Tentativas de unificação do calendário
Em uma tentativa de resolver a discrepância, o Congresso Pan-Ortodoxo de 1923 propôs um calendário juliano revisado, graças ao cientista Milutin Milanković.
Algumas igrejas adotaram a nova proposta, mas outras, como as da Rússia e do Egito, mantiveram a data original.
Tradições e celebrações ortodoxas
As tradições de Natal variam bastante entre as comunidades ortodoxas. O jejum é uma prática comum, feito por até 40 dias antes do Natal, e destaca a abstinência de alimentos como carne e laticínios.
Além disso, as celebrações incluem vigílias e festas religiosas intensas. Na Geórgia, as procissões conhecidas como Alilo são tradicionais, enquanto na Rússia consome-se o kutya, um mingau coletivo.
O Egito e a Etiópia também têm pratos típicos que simbolizam tradições religiosas, como o fattah e o wat, respectivamente, ambos repletos de simbolismo.
Embora as datas de celebração do Natal variem, a essência dessas festividades permanece: o fortalecimento da fé e o espírito de união cristão.
A longo prazo, a questão do calendário pode encontrar uma nova resolução. Entretanto, até lá, milhões de cristãos ortodoxos continuam a manter suas tradições e comemorações em 7 de janeiro.