Com o avanço das compras online e a popularização dos aplicativos de e-commerce, receber pacotes em casa tornou-se parte da rotina de milhões de brasileiros.
Desde a pandemia, o comércio eletrônico se consolidou no país, alcançando em 2024 um faturamento impressionante de R$ 204 bilhões, segundo a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm).
Mas, por trás dessa comodidade, há um risco silencioso que ameaça a privacidade e a segurança dos consumidores: as etiquetas de envio coladas nas embalagens.
Esses pequenos pedaços de papel contêm informações pessoais sensíveis, como nome completo, endereço, telefone e, em alguns casos, até o CPF do comprador.
Quando descartadas sem o devido cuidado, podem se transformar em uma perigosa fonte de vazamento de dados e fraudes de identidade.
O perigo invisível das etiquetas de encomendas
De acordo com especialistas em proteção de dados, o descarte inadequado de documentos físicos é uma das principais portas de entrada para golpes e fraudes.
Embora não existam números específicos sobre crimes originados de etiquetas de entrega, o advogado Alexander Coelho, especialista em direito digital e cibersegurança, alerta que essas informações podem ser facilmente exploradas por criminosos.
“É o que chamamos de engenharia social: o golpista coleta pequenas informações espalhadas e as combina até construir um perfil completo da vítima”, explica Coelho.
Com esses dados, fraudadores podem abrir contas bancárias, solicitar crédito, fazer compras em nome de terceiros e até criar perfis falsos nas redes sociais.
Muitos criminosos vasculham lixo de condomínios ou empresas em busca de etiquetas descartadas. Diferente dos ataques cibernéticos, esse tipo de crime é silencioso e difícil de rastrear, justamente por ocorrer fora do ambiente digital, o que o torna ainda mais perigoso.
Essa simples etiqueta pode entregar seus dados para criminosos (Foto: iStock)
Mais compras, mais exposição
A cada nova compra online, aumenta a quantidade de empresas que têm acesso aos dados do consumidor. Plataformas de marketplace, transportadoras, sistemas de logística e CRMs armazenam essas informações, e nem todas adotam medidas adequadas de segurança da informação.
Segundo Coelho, “o consumidor nunca tem 100% de controle sobre onde seus dados estão sendo processados”, o que reforça a importância do cuidado também no descarte físico das encomendas.
O alerta é urgente: o Brasil registrou quase 7 milhões de tentativas de fraude apenas no primeiro semestre de 2025, segundo a Serasa Experian, um aumento de 30% em relação ao ano anterior. A maior parte dos golpes ocorre no setor bancário e de cartões de crédito, justamente os mais sensíveis à exposição de dados.
Como se proteger: elimine os dados antes de descartar
A forma mais segura de evitar problemas é destruir completamente as etiquetas antes de jogar fora qualquer embalagem. A recomendação é rasgar ou triturar os papéis, especialmente aqueles que contêm nome, endereço e CPF.
Usar um marcador preto pode ajudar, mas nem sempre é eficaz, em papéis finos ou impressões fortes, as informações podem ser reveladas com luz ou aplicativos de imagem.
“Dado pessoal é um ativo sensível e deve ser tratado como tal — inclusive no lixo”, reforça Coelho.
Pequenos hábitos que protegem grandes dados
A proteção de dados pessoais começa com atitudes simples. Evite preencher cadastros em sites duvidosos, desconfie de promoções que exigem informações em excesso e nunca poste fotos de suas encomendas com etiquetas visíveis nas redes sociais.
Também é essencial monitorar seu CPF, usar senhas fortes e ativar a autenticação em dois fatores em suas contas digitais.
Por fim, em um mundo onde “dados são o novo petróleo”, proteger suas informações é proteger sua identidade. E isso pode começar com algo tão simples quanto rasgar uma etiqueta antes de jogá-la no lixo.
