Um gesto automático da rotina diária pode ter impacto direto na saúde: trocar as meias. Manter esse hábito todos os dias não é apenas uma questão de conforto, mas também uma medida eficaz de higiene.
A microbiologista clínica Primrose Freestone, da Universidade de Leicester, no Reino Unido, explica que o hábito reduz drasticamente a carga microbiana e ajuda a conter odores persistentes, conforme análise publicada no site The Conversation.
Os números revelam por que o cuidado importa. Meias usadas uma única vez podem acumular entre 8 e 9 milhões de bactérias por amostra, enquanto camisetas, no mesmo intervalo, registram cerca de 83 mil.
A diferença evidencia como os pés criam um ambiente favorável à proliferação microbiana, sobretudo pelo calor e pela umidade.
O alerta se intensifica ao considerar a durabilidade desses microrganismos. Segundo Freestone, as bactérias conseguem sobreviver por meses nos tecidos. Assim, a troca diária das meias deixa de ser um detalhe e passa a integrar estratégias básicas de prevenção e higiene pessoal.
A relação entre microrganismos e mal cheiro
Determinadas espécies explicam aromas específicos. Staphylococcus hominis transforma suor em um álcool associado ao cheiro de cebola podre. Já Staphylococcus epidermidis produz um composto com nota de queijo.
Além disso, Corynebacterium gera um ácido com odor comparável ao de cabra, sobretudo quando o suor oferece mais nutrientes.
Os pés abrigam um ecossistema complexo, com até 1.000 espécies diferentes de bactérias e fungos. Essa parte do corpo também reúne uma das maiores densidades de glândulas sudoríparas do corpo.
Entre os dedos, calor e umidade favorecem microrganismos que se alimentam de suor e células mortas, gerando resíduos que cheiram mal.
O que as meias carregam
As fibras das meias não acumulam apenas micróbios da pele. Elas também coletam organismos do ambiente, como os do chão de casa, da academia e até do solo externo.
Consequentemente, essas cargas migram para sapatos, cama, sofá e piso, espalhando agentes do pé de atleta, infecção contagiosa que acomete a pele dos dedos dos pés e ao redor deles.
O perfil microbiano das meias combina bactérias inofensivas e potenciais patógenos, como Aspergillus, Candida e Cryptococcus. Esses agentes estão associados a infecções respiratórias e intestinais.
Portanto, meias sujas ampliam o risco de transmissão de pé de atleta, especialmente em vestiários de academias ou banheiros movimentados.
Prevenção no dia a dia
Freestone recomenda não repetir o mesmo par de sapatos por muitos dias seguidos, permitindo que o suor seque por completo. Também é válido evitar meias e calçados que intensificam a transpiração.
Lavar os pés duas vezes ao dia e usar antitranspirantes para os pés também reduzem o odor e a proliferação bacteriana.
Além disso, meias antimicrobianas que incorporam prata ou zinco eliminam bactérias produtoras de odor. Por outro lado, fibras de bambu melhoram a ventilação e aceleram a evaporação do suor.
Dependendo do desempenho, modelos antimicrobianos podem escapar da regra de uso único. Já algodão, lã e sintéticos exigem troca diária.
Lavagem e secagem eficazes
Quando não há odor anormal, lavar a meia entre 30 e 40 °C com detergente neutro já ajuda. No entanto, a higienização completa exige detergente com enzimas e 60 °C. Se a lavagem em baixa temperatura for inevitável, um ferro a vapor entre 180 e 220 °C complementa o processo e inativa esporos fúngicos.
- Lavagem rotineira: 30 a 40 °C com detergente neutro, se não houver odor incomum.
- Desinfecção total: detergente enzimático e 60 °C para remover e matar micróbios.
- Alternativa térmica: passar a ferro a vapor entre 180 a 220 °C após lavagem fria.
- Secagem ao ar livre: luz solar fornece radiação ultravioleta com ação antimicrobiana.
Condutas em áreas compartilhadas
Pessoas com pé de atleta devem evitar compartilhar meias ou sapatos e não caminhar apenas de meias, tampouco descalças, em vestiários de academias ou banheiros. Assim, reduzem a disseminação do fungo e protegem superfícies e conviventes que permanecem suscetíveis ao contágio.