Reconhecido mundialmente por sua trajetória à frente da Microsoft e por sua atuação filantrópica em temas como saúde pública, educação e combate à pobreza, Bill Gates voltou a chamar atenção ao apontar um desafio global para o qual, segundo ele, ainda não existe uma solução definitiva.
Trata-se da desinformação em escala digital, um fenômeno que se intensificou com o avanço da internet e da inteligência artificial — e que, na visão do bilionário, deverá ser enfrentado principalmente pela Geração Z.
Em entrevista à CNBC Make It, Gates foi direto ao afirmar que esse problema acabou sendo “entregue” à nova geração. Para ele, o impacto das fake news, da manipulação de dados e da dificuldade em distinguir fatos de conteúdos falsos será ainda mais profundo nos próximos anos, exigindo uma resposta coletiva que vai além da tecnologia.
Desinformação: um desafio herdado pela nova geração
Foto: Shutterstock
Ao refletir sobre os rumos do mundo digital, Bill Gates reconheceu que subestimou o potencial negativo da internet quando ajudou a popularizar os computadores pessoais.
Sua expectativa era de que a tecnologia fosse usada majoritariamente para produtividade e aprendizado. No entanto, a realidade mostrou que os mesmos canais capazes de democratizar o conhecimento também se tornaram terreno fértil para a propagação de informações falsas.
Segundo a coach executiva e ex-CEO da Bayer, Lara Bezerra, a Geração Z é, ao mesmo tempo, a mais impactada e a mais bem posicionada para lidar com esse cenário.
Criados em meio às redes sociais, algoritmos e ferramentas de IA, esses jovens utilizam a informação digital como base para decisões pessoais, profissionais e políticas.
“A implicação maior da desinformação ficará sobre a Geração Z. É a geração que mais se beneficia das mídias digitais e da inteligência artificial para tomar decisões”, afirma Bezerra.
Por que a Geração Z pode ser parte da solução?
Apesar de herdar um problema complexo, a Geração Z também reúne características que podem transformar esse desafio em oportunidade.
De acordo com especialistas, trata-se de uma geração mais conectada, questionadora e familiarizada com tecnologias emergentes.
Para Bezerra, justamente por viverem imersos nesse ambiente, os jovens têm maior capacidade de desenvolver pensamento crítico, aprender a identificar fontes confiáveis e exigir mais transparência das plataformas digitais.
“Já é a geração mais impactada, mas também é a que pode trazer a maior solução”, reforça a executiva.
O papel da educação digital no combate às fake news
Bill Gates (Foto: iStock)
A preocupação com a desinformação gerada pela inteligência artificial será aprofundada por Bill Gates no documentário “What’s Next? The Future With Bill Gates”, com estreia prevista na Netflix.
Na produção, o empresário admite se sentir frustrado por não ter encontrado uma resposta eficaz para conter a disseminação de notícias falsas.
Para Camila Rocca, ex-executiva da Meta e atualmente atuando nos Estados Unidos, o foco precisa estar na formação digital das novas gerações. Segundo ela, a descentralização da informação exige que usuários sejam treinados para questionar, verificar e interpretar conteúdos.
“É essencial capacitar pessoas para refletirem sobre o que consomem, entenderem como funcionam os algoritmos e se tornarem mais críticas diante da informação”, explica Rocca.
Empresas, escolas e tecnologia como aliadas
Nos Estados Unidos, iniciativas de letramento digital já fazem parte da rotina de escolas e grandes corporações. O objetivo é ensinar como funcionam os mecanismos de recomendação, as bolhas informacionais e o papel da IA na amplificação de conteúdos.
Empresas como Google e Meta vêm adotando estratégias baseadas em inteligência artificial para identificar e sinalizar conteúdos potencialmente falsos, oferecendo alertas ao usuário antes do compartilhamento.
Um problema global que exige ação coletiva
A mensagem deixada por Bill Gates é clara: a desinformação não é apenas um problema tecnológico, mas social, educacional e cultural.
Embora a responsabilidade recaia fortemente sobre a Geração Z, o enfrentamento desse risco global exige cooperação entre governos, empresas, educadores e usuários.
Ao investir em educação digital, pensamento crítico e uso consciente da tecnologia, a nova geração pode não apenas lidar com esse desafio, mas redefinir a forma como a informação circula no mundo, transformando um risco global em um avanço coletivo.

