Uma publicação da empresa oficial de comunicação do governo federal, a Agência Brasil, chamou atenção ao utilizar a linguagem neutra. Bastante criticada durante o governo Bolsonaro, ela também foi usada por ao menos seis novos ministros de Lula durante suas posses.
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O texto é sobre o 1º Encontro de LGBT+eleites, realizado nos dias 20 e 21 de janeiro, considerado um “esquenta” para o Dia Nacional de Visibilidade Trans, celebrado no próximo dia 29. O evento contou com a participação das deputadas federais trans Duda Salabert (PDT-MG) e Érika Hilton (Psol-SP), além da primeira deputada estadual intersexo, Carolina Iara (Psol-SP).
A publicação cita “parlamentares eleites para a Câmara dos Deputados e também para as Assembleias Legislativas dos Estados”. Os uso do gênero neutro em palavras como ‘eleite’, ‘deputade’ e ‘parlamentare’ impressionou alguns e desagradou outros.
A Agência Brasil explica, no fim do artigo, que a “repórter utilizou o gênero neutro nas construções das frases” a “pedido das parlamentares eleites”.
A variação da norma gramatical é bastante adotada por pessoas que não se identificam com nenhum gênero (agênero) ou que não se identificam apenas com masculino ou feminino (não binárias). Quem a utiliza apenas insere a letra “e” em substantivos no lugar de “a” ou “o”, e também adere aos pronomes “elu”, “delu”, “ile” e “dile”.
Na posse do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a linguagem neutra foi usada no momento dos agradecimentos a “todos, todas e todes”. A palavra “todes” foi repetida também durante as posses de Márcio Macêdo na Secretaria-Geral de Governo; de Margareth Menezes na Cultura; e de Silvio Almeida, nos Direitos Humanos e da Cidadania.
Aceitação e críticas
Nem mesmo dentro do governo Lula, a aceitação da construção é unanimidade. Enquanto era deputada, a nova ministra do Turismo, Daniela Carneiro, apresentou um projeto de lei para vetar o uso da linguagem neutra em escolas públicas e privadas. Segundo a proposta, ela é inaceitável e uma “deturpação da Língua Portuguesa”.
“Uma língua é adquirida, é aprendida, não é inventada; e não é aceitável que essa ilegítima invenção seja reproduzida justamente no local onde os estudantes deveriam aprender a utilizar a Língua Portuguesa de acordo com as regras gramaticais”, diz o projeto de lei.
Durante a gestão de Bolsonaro, a variação foi extremamente criticada. “Uma parte da garotada nem sabe português e quer a linguagem neutra. É impressionante. Antes de explicar o pronome neutro pergunta se sabe a diferença do pronome pessoal do caso reto, do caso oblíquo”, disse o ex-presidente em conversa com apoiadores.
Segundo levantamento do GLOBO, a proibição da linguagem neutra é o foco de 58 projetos de lei apresentados desde 2019. Um deles, de autoria do Sargento Eyder Brasil, foi aprovado em Rondônia, mas acabou sendo derrubado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).