No sul da Índia, a cerca de 17 minutos de Puducherry, existe uma cidade onde não há políticos. Auroville, fundada em 1968 por Mirra Alfassa, conhecida como ‘a Mãe’, é uma comunidade experimental dedicada à unidade humana.
Com design de mandala do arquiteto francês Roger Anger, a cidade promove paz e autogestão. As decisões são tomadas por consenso comunitário, sem um governo tradicional.
A cidade foi inaugurada em 28 de fevereiro de 1968, com a presença do presidente da Índia e representantes de 124 países. Ou seja, cada um depositou um punhado de terra de seu país em uma urna, simbolizando a fraternidade universal.
Hoje, Auroville abriga 3.300 pessoas de 52 países, com metade dos residentes sendo indianos e 20% franceses. No centro, está o Matrimandir, um edifício de meditação com uma grande esfera de cristal.
Uma cidade sem políticos e sem dinheiro
Design da cidade foi inspirado em uma mandala. (Crédito: Reprodução)
Auroville surgiu em 1965, em plena Guerra Fria, quando a Índia liderava o movimento dos países não alinhados. A comunidade experimental A Mãe propôs à Unesco a criação de uma cidade internacional para promover a paz e harmonia além das crenças e nacionalidades.
Então, a proposta foi aceita em 1966, e os preparativos começaram, incluindo a compra de terrenos. Após a morte de Alfassa em 1973, a cidade experimentou várias formas de governo, adotando um sistema de assembleia e comitês para gestão e desenvolvimento.
Uma característica marcante de Auroville é a renúncia ao dinheiro em espécie. Desse modo, a cidade adota uma “economia de doação”, onde os residentes contribuem com trabalho e recursos conforme suas habilidades e necessidades.
Um modelo alternativo: Liberland
Assim como Auroville, há outros modelos alternativos de governança pelo mundo. Ou seja, um exemplo é Liberland, um território proclamado como nação independente pelo checo Vít Jedlička em 2015.
Inspirado por um modelo libertário, Liberland defende a ideia de que a sociedade deve tomar suas próprias decisões espontaneamente, sem políticos. Dessa maneira, a política fiscal de Liberland é baseada em pagamentos voluntários de impostos.
Embora não tenha sido invadido por soldados, Liberland enfrentou uma ação da polícia croata, que confiscou pertences dos moradores. O presidente Vít Jedlička pediu um acordo com a Croácia para evitar futuros conflitos.
Enfim, reconhecida pela Comissão Europeia em 2019, Liberland reúne apoiadores globais que acreditam nos ideais libertários.
É possível viver sem políticos?
Tanto Auroville quanto Liberland mostram que é possível viver sem políticos e sem dinheiro, desafiando os modelos tradicionais de governança. Essas cidades propõem sistemas de autogestão, colaboração e sustentabilidade, oferecendo alternativas inspiradoras para uma vida mais harmoniosa e igualitária.
Em Auroville, o sistema de economia de doação elimina a dependência de transações monetárias. Essa filosofia de colaboração e igualdade ajuda a manter a sustentabilidade da comunidade. Afinal, residentes contribuem com trabalho e recursos conforme suas habilidades, promovendo um senso de unidade e apoio mútuo.
Vale dizer que Auroville enfrenta desafios na gestão e desenvolvimento sem um governo tradicional. No entanto, seu sistema de autogestão e consenso comunitário tem funcionado, proporcionando um ambiente de paz e harmonia na medida do possível.