Existem coisas que só podem ser ditas por meio de uma carta. Isso porque algumas cartas podem conter mentiras que salvam e, assim, evitar mágoas desnecessárias. As cartas sobreviveram as facilidades e imediatismos dos e-mails, das mensagens enviadas por aplicativo, e a todas as outras tecnologias.
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Bem ou mal, o filme O Menino que Lia Cartas defende a virtude da ignorância, ou ainda por meio da fantasia, a fuga da realidade. Nessa história nós vemos o poder advindo do conhecimento, mas que não garante felicidade.
O filme parece um pouco perdido no tempo e, de certa forma, está. No longa dirigido pelo sul-africano Sibusiso Khuzwayo, e lançado em 2019, Siyabonga, um menino de apenas doze anos de idade, se desloca com os pais de Johannesburgo para o vilarejo onde mora a sua avó.
Siyabonga, não fica muito contente quando descobre que seus pais estão enfrentando uma crise conjugal, que foi agravada por problemas financeiros, e que o melhor para todos é que ele e sua mãe fiquem uns tempos no pequeno vilarejo.
A avó, dona de um pequeno armazém que recebe as encomendas e as cartas deixadas pelo correio, incumbe o menino de catalogar e lê-las para os destinatários, todos analfabetos, fazendo-o, ainda que lendo pouco, o leitor oficial de cartas dos moradores.
O que também confere ele a habilidade de alterar as histórias contidas nas cartas de acordo com a sua conveniência. A pequena malícia do filme consiste em conferir ao garoto o potencial de se tornar um contador de histórias, criando e modificando as vidas alheias.
As pobres mulheres da história, são dependentes da vida que os homens constroem para elas. O desfecho acena suavemente para o rompimento dessas ilusões, mas sem as consequências esperadas de tal descoberta.
O motivo pelo qual o menino adultera o conteúdo das cartas diz respeito ao amor romântico que ele sente por uma mulher mais velha. O delito, portanto, é justificado por aquela paixão platônica e impossível. O Menino que Lia Cartas (2019) tem a aparência de um filme de férias, são experimentadas situações incompatíveis com o cotidiano, centradas em romances furtivos que jamais poderiam dar frutos no futuro. Porém, o discurso estima que estes mecanismos voláteis do amor e da desilusão sejam fundamentais para o crescimento individual.
O curta-metragem se mostra carinhoso e ingênuo, apostando numa visão de mundo muito particular sobre o mundo e também sobre o cinema.