Os clientes do Nubank iniciaram a semana com uma surpresa desagradável: o rendimento negativo do Nu Reserva Imediata. O fundo de renda fixa, com mais de 1,3 milhões de cotistas, contava com debêntures em sua carteira, inclusive da Americanas.
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Na última semana, a varejista anunciou um rombo fiscal de R$ 20 bilhões, mas o buraco já está estimado em R$ 40 bilhões. Desde a notícia, a empresa já perdeu mais de 80% do seu valor de mercado.
Mas por que o Nu Reserva Imediata é uma péssima escolha de reserva de emergência?
“Um fundo para reserva de emergência, nunca, jamais, em hipótese nenhuma, deve ter crédito privado na carteira”, explica Ricardo Brasil, fundador da Gava Investimentos.
“Se o fundo do Nubank foi vendido como opção para reserva de emergência, chega ao absurdo. Me parece um tanto imprudente”, completa.
Embora o banco digital venda a opção como uma reserva de emergência, ele contém debêntures da Lojas Americanas e da B2W em seu portfólio. Até o dia 13 de janeiro, o fundo acumulou rentabilidade negativa de 0,26%. Somente na quinta e sexta-feira, a queda foi de 0,75%.
Risco do crédito privado
O motivo da desvalorização é a exposição ao crédito privado. Segundo o TradeMap, 22,9% do patrimônio líquido do Nu Reserva estava alocado em debêntures (títulos de dívida de empresas privadas) em dezembro de 2022.
Ao menos 0,97% desse total estava ligado a títulos de dívida da Americanas em setembro do ano passado, quando os últimos dados ficaram disponíveis. Na semana passada, as debêntures da empresa fecharam o pregão com queda próxima a 50%.
“O risco do crédito privado é de se descobrir uma inconsistência nas demonstrações financeira e da empresa não pagar o título. Já tiveram casos como o da Enron, que chegou a ser a maior empresa em valor de mercado nos EUA, Americanas, IRB Brasil (IRBR3) etc. Não há segurança para o investidor”, explica o especialista.
Segundo o gestor Marcos Iório, da Integral Investimentos, as debêntures da Americanas ganharam uma nova perspectiva agora. “A capacidade da empresa pagar as dívidas ficou menor. Houve reflexo na precificação das debêntures, que antes eram considerados high grade (melhor grau de investimento), agora já não estão classificados dessa maneira”, explica.
Não é reserva de emergência
O fundo era vendido pelo Nubank como uma reserva de emergência, ou seja, de risco extremamente baixo e voltado para investidores com objetivos de curto prazo.
“Cheguei até mesmo a pensar que tivesse ocorrido algum problema técnico no aplicativo. O fundo é de renda fixa, indicado para reserva, não sabia que podia cair assim”, diz Yuri Matheus Gouveia, analista de segurança da informação e cliente do banco digital.
Responsável por ele, a Nu Asset afirmou que o produto segue com rentabilidade positiva de 2,72% nos últimos 90 dias e garantiu que vai rever a posição em debêntures da Americanas. Pelos limites regulatórios, o banco pode investir até 50% do patrimônio total em crédito privado.
“A Nu Asset Management, gestora de fundos de investimentos do Nubank, esclarece que o fundo de renda fixa ‘Nu Reserva Imediata’ possui estratégia desenhada para ser uma opção de baixo risco e alta liquidez, e busca performance acima do CDI ao longo do tempo”, diz.
Para Rodrigo Knudsen, gestor de renda fixa da Empiricus Gestão, o problema é outro. “O problema aqui não está no fato de o fundo de renda fixa conservador ter debêntures da Americanas, o problema está no quanto ele tem em debêntures, como ele está diversificado e como esse fundo foi vendido”, explica.
“Se o fundo tem 10% ou 20% em crédito privado e exposição de 0,1% por emissor, não tem problema, pois é algo que não vai fazer diferença em caso de situações como a da Americanas. Uma exposição tão pequena que os investidores nem conseguiriam ver na cota (os prejuízos). No caso do fundo do Nubank, a exposição era muito grande”, finaliza.
