Hyundai, Stellantis, Volkswagen e Chevrolet estão na lista de montadoras que deram férias coletivas aos empregados nas últimas semanas. Segundo as fabricantes, a decisão está ligada à falta de componentes, mas as especulações apontam que o verdadeiro motivo são os pátios cheios.
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Para se esvaziar os pátios lotados e reduzir o tempo de estoque das revendedoras, a solução foi suspender a fabricação de veículos. Dessa forma, os estoques podem ser absorvidos sem que a oferta desvalorize os produtos, já que é improvável que as empresas reduzam os preços.
As gigantes sabem bem como seguir a famigerada lei da oferta e demanda. Durante a pandemia, a alta no câmbio, o aumento no frete e a falta de semicondutores corroboraram com a alta dos preços. Agora, é hora de apostar em carros mais caros e diminuir o volume de produção para assegurar os lucros.
“As montadoras estão se adequando ao novo nível de produção do mercado brasileiro. Com isso, dificilmente, haverá redução de preços. O foco é a lucratividade”, explica Antônio Jorge Martins, professor de MBAs da FGV e especialista no setor automobilístico.
Martins afirma que a inflação e a taxa de juros elevada fazem o consumidor considerar muito mais a compra de um automóvel. Outro fator é o custo do financiamento, que está bem mais alto.
“Na medida que temos um cenário indefinido e elevada taxa de financiamento, nem as pessoas querem tomar o dinheiro, nem os bancos querem emprestar, para não correrem riscos”, acrescenta. Segundo ele, cerca de 60 a 70% das vendas de veículos são frutos de financiamentos.
Situação em números
O volume de vendas de automóveis e comerciais leves teve queda de 0,85% em 2022. Por outro lado, houve alta de 4,9% no quadro geral, resultado puxado principalmente pelos ônibus e motocicletas.
“O resultado só não foi melhor porque tivemos períodos que impactaram no movimento de público nas concessionárias, como foi o caso da Copa do Mundo”, explica o presidente da Fenabrave, Andreta Júnior.
O mercado espera poucas mudanças no cenário, especialmente por conta da alta taxa básica de juros e da oferta reduzida de crédito.
No caso dos usados, houve um grande movimento de desvalorização pós-pandemia. Durante a crise, as lojas pagavam até 100% da tabela Fipe, mas hoje oferecem entre 65% e 75%. Para especialistas, o percentual deve se manter, exceto para produtos que costumam faltar, como os de alto padrão e exóticos.