Imagine-se sentado em um café aconchegante, saboreando uma bebida quente enquanto folheia um álbum de fotos antigas. Cada imagem traz à tona lembranças preciosas de entes queridos que já partiram. Você sorri ao recordar os momentos compartilhados, sentindo uma mistura de nostalgia e saudade. Essas lembranças são tesouros que nos ajudam a manter viva a memória daqueles que amamos e perdemos.
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Entretanto, algo curioso é que ao longo dos séculos as pessoas têm procurado maneiras de suavizar a dor da perda e preservar a conexão com aqueles que não estão mais entre nós de outro modo. Recentemente, uma nova abordagem tem gerado muita discussão: a criação de aplicativos com funções de biógrafo e avatar, utilizando a inteligência artificial (IA) para acessar informações e até mesmo interagir com pessoas falecidas no futuro.
A promessa da IA para criar “eu virtuais”
Um exemplo desse avanço tecnológico é a empresa HereAfter AI, sediada na Califórnia (EUA), que busca inventar um “eu virtual” daqueles que partiram. Eles combinam centenas de respostas pessoais catalogadas enquanto a pessoa estava viva, abrangendo desde informações sobre a infância até relacionamentos, personalidade e gostos.
Em seguida, adicionam uma voz, um rosto e expressões fielmente recriados. Essa proposta é semelhante ao episódio “Be Right Back” da série de ficção científica “Black Mirror” (Netflix), embora os resultados para aqueles que experimentaram essa ideia não tenham sido os melhores.
É importante abordar essa “imortalidade” digital com cautela, como mencionado em um artigo da revista MIT Technology Review. A tecnologia atual ainda não é capaz de criar réplicas perfeitamente idênticas, pois a voz pode soar um pouco diferente e a maneira de falar pode não ser completamente igual.
Além disso, existe uma preocupação ética em relação ao uso da voz de pessoas vivas ou falecidas, bem como o risco desses serviços se tornarem gatilhos emocionais para aqueles que estão passando pelo processo de luto.
Profissionais que estudam e trabalham com o luto expressam receios em relação às propostas irrealistas de criar seres “imortais” por meio da IA. Essas ferramentas podem funcionar como drogas anestésicas falsas e viciantes, intensificando a angústia e o desespero associados à saudade e impedindo o desenvolvimento de recursos pessoais de enfrentamento.
A importância de aceitar a realidade e buscar apoio adequado
É esperado que, durante o processo de luto, as pessoas queiram revisitar o passado e recordar os momentos compartilhados por meio de recordações tangíveis, como fotografias e objetos pessoais. No entanto, acreditar na criação de um clone digital através da IA e interagir com ele é algo completamente diferente.
Em um estado de fragilidade emocional, podemos nos desconectar da realidade ao nos envolvermos em interações com essas representações artificiais. Embora os aplicativos que recriam digitalmente pessoas falecidas possam ser objeto de estudo para obter informações e compreender cientificamente esse fenômeno, é necessário que haja a intervenção de profissionais de saúde mental.