Quem nunca experimentou o desespero de ver um alimento escorregar das mãos e cair no chão? O coração acelera, e o cérebro parece lutar contra o relógio para decidir se vale a pena recuperar o petisco rapidamente ou simplesmente desistir dele.
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Nesses momentos, muitos recorrem à famosa “regra dos cinco segundos”, acreditando que, se o alimento ficar no chão por esse curto período, estará a salvo de qualquer contaminação. No entanto, será que essa regra é embasada em fatos científicos ou apenas uma tradição popular que nos consola?
O que Julia Child tem a ver com a “regra dos cinco segundos”
Embora não seja possível identificar exatamente a origem dessa crença, há relatos de que Julia Child, a famosa chef do programa “The French Chef”, nos Estados Unidos, tenha contribuído para a popularização do mito.
Em um episódio na década de 60, os espectadores testemunharam Julia recuperar rapidamente uma panqueca de batata que havia caído no fogão e, de forma bem-humorada, brincar com a situação, questionando quem a veria se estivesse sozinha na cozinha.
Fatores que influenciam a transmissão de microrganismos nos alimentos
Contudo, pesquisas científicas têm demonstrado que a taxa de transferência de bactérias e outros microrganismos depende de diversos fatores, tornando a “regra dos cinco segundos” questionável.
Estudos realizados pela Universidade de Rutgers, em Nova Jersey (EUA), analisaram diversos tipos de alimentos, como pães, chicletes e melancia, concluindo que a taxa de contaminação é maior em alimentos mais úmidos.
A umidade e a superfície
Entretanto, isso não significa que alimentos secos estão livres de patógenos. Maristela da Silva do Nascimento, professora doutora da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp, enfatiza que alimentos com maior teor de umidade apresentam uma transferência mais significativa, mas que outros fatores também podem influenciar.
A transmissão de microrganismos pode ocorrer instantaneamente, especialmente quando o alimento entra em contato com superfícies altamente contaminadas, como o chão.
Comida caiu no chão e agora?
Os riscos de consumir alimentos contaminados não devem ser subestimados, já que podem levar a sintomas desagradáveis, como vômitos, diarreias e febre, ou até mesmo problemas mais graves, dependendo do microrganismo presente. Portanto, é aconselhável descartar alimentos que caíram em superfícies de contato, como carpetes e pisos.
Uma exceção a essa regra aplica-se a alimentos com casca, como a banana, que oferecem menor risco de contaminação. Nesses casos, desde que a casca não entre em contato com a parte comestível, o alimento pode ser considerado seguro. No entanto, é fundamental lavar bem as mãos antes de manusear esses alimentos ou qualquer outro alimento que será consumido cru.
Como evitar doenças transmitidas por alimentos
Manter o ambiente limpo é outro fator crucial para garantir a segurança alimentar. Limpar adequadamente a bancada e outros utensílios antes de preparar os alimentos evita contaminações cruzadas. Filipe Prohaska, infectologista da Universidade de Pernambuco, enfatiza a importância de higienizar diariamente bancadas, pias e a própria cozinha, especialmente em locais com uso frequente.
O álcool 70, desinfetantes ou produtos específicos para limpeza são recomendados para a higienização de superfícies. Afinal, garantir a segurança alimentar é uma responsabilidade de todos, desde a escolha cuidadosa dos alimentos até o preparo higiênico e a manutenção de um ambiente limpo.
Portanto, da próxima vez que um alimento cair no chão, lembre-se: não confie na “regra dos cinco segundos”. Priorize a segurança alimentar, descartando alimentos que caíram em superfícies contaminadas e mantendo a limpeza da sua cozinha para saborear refeições deliciosas e livres de preocupações.