Um tweet que viralizou no último domingo (6), com mais de 1,1 milhão de visualizações, trouxe à tona uma realidade já conhecida, porém sempre impactante: 90% dos trabalhadores no Brasil recebem menos de R$ 3,5 mil por mês.
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Baseando-se em informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) – Rendimento de todas as fontes de 2019, do IBGE, o Choquei mostrou que a maior parte do país tem renda inferior a R$ 3.422 durante o período analisado.
Porém, o quadro não se limita apenas a esses números: no extremo oposto da pirâmide, ou seja, no topo restrito de 1% onde residem os indivíduos chamados de “ricos”, o ponto de corte da renda na época da pesquisa era de R$ 28.659. Na camada da população que compõe os 90% com renda inferior a R$ 3.422, 70% dos indivíduos ganhavam até dois salários mínimos, o equivalente a R$ 1.871 naquela ocasião.
Essa divisão enfatiza a discrepância de renda no Brasil, mas também traz à luz um dilema relacionado ao grupo dos 1% mais abastados. Dentro dessa parcela, o IBGE engloba desde profissionais autônomos, como advogados e engenheiros, até integrantes da elite do serviço público, como promotores, auditores, políticos, entre outros.
🚨ATENÇÃO: 90% dos brasileiros ganham menos de R$ 3,5 mil no trabalho. pic.twitter.com/jjJ4CSSY7P
— CHOQUEI (@choquei) August 6, 2023
De forma polêmica, porém, o Instituto deixa de contabilizar grandes fortunas herdadas, as quais geralmente são subestimadas nos levantamentos censitários. A questão que se coloca é se todos aqueles no topo da pirâmide podem ser considerados ricos.
Isso porque, enquanto é relativamente fácil para os 90% que vivem abaixo da linha dos R$ 3.422 compreenderem a realidade da pobreza, a definição de riqueza se torna subjetiva. O que significa ser rico? Ter recursos suficientes para parar de trabalhar? Possuir carros de luxo? Sem um consenso acadêmico, muitos associam riqueza a uma forma de ostentação.
Maioria recebe menos de R$ 3,5 mil, mas ganhos dos mais ricos são menos mapeados
Pedro Ferreira de Souza, sociólogo e pesquisador do Ipea, ressalta que, apesar de o IBGE categorizar de maneira clara os 90% mais pobres da população, nos 10% mais ricos ocorre uma subestimação crescente conforme se sobe na escala. Nesse segmento, onde os ganhos superam R$ 28 mil, a pesquisa agrupa tanto profissionais altamente remunerados quanto bilionários extremamente ricos.
Entender o topo da pirâmide social é de extrema importância para o Brasil, que, no contexto da desigualdade, se posiciona em um patamar similar ao de países como Lesoto, Botsuana, Moçambique e África do Sul.
Segundo Souza, há duas razões principais para isso. Primeiro, quando uma parcela reduzida da população controla uma parte significativa dos recursos, essa tende a “usar todos os meios possíveis para converter o poder econômico em influência política e, assim, conseguir enriquecer ainda mais”.
A segunda razão é que é crucial saber onde o dinheiro está relativamente “excedente” para melhorar a qualidade de vida dos mais necessitados. Não se trata de confisco, ressalta o sociólogo, mas sim de adotar um modelo semelhante ao dos Estados Unidos e Europa: tributar onde há concentração de riqueza e investir onde as necessidades são maiores. Atualmente, uma proposta de reforma tributária segue em votação entre os parlamentares brasileiros.