As negociações para um acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia, travadas há cerca de duas décadas, ganharam desdobramentos positivos nos últimos meses. Novas conversas em prol da parceria estão marcadas para o dia 30 de outubro, em Brasília.
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A ideia é reduzir drasticamente ou zerar o imposto de importação de mais de 90% dos bens comercializados entre os blocos de países nos próximos 10 anos. Se isso ocorrer, o Brasil deve ampliar a exportação de produtos agrícolas e a importação de bens industrializados.
Preços dos carros
A alíquota de imposto de importação para veículos atualmente é de 35% para carros a combustão, 4% para híbridos e isenta para elétricos. O acordo pode permitir a chegada de automóveis europeus ao Brasil sem impostos ou com taxação reduzida.
“Com essa mudança, os carros alemães, por exemplo, chegarão ao país bem mais baratos. Será um efeito cascata, as outras empresas terão que baixar também, ou todo mundo vai comprar carro importado. Não há nada que baixe mais o preço do que a concorrência”, explica o economista Igor Lucena.
Segundo Cássio Pagliarini, sócio da consultora Bright Consulting, a Organização Mundial do Comércio considera 23% como o “máximo de uma barreira comercial”. Por isso, a mera redução na alíquota do imposto já teria um grande impacto no mercado nacional, especialmente nos segmentos de médios e grandes.
E a indústria nacional?
Embora tenha um potencial positivo para o consumidor final, a abertura do mercado pode reduzir a produção nacional de veículos, considerando que manter fábricas por aqui pode se tornar desvantajoso para as montadoras europeias. Um das consequências disso é a eliminação de milhares de postos de trabalho.
“O acordo pode ser saudável para ativar a nossa indústria e incentivar a concorrência, o que pode resultar em investimento em novas tecnologias. No entanto, deve ser dosado. A participação de carros importados no mercado nacional é interessante até 10% ou 15%, passando disso, o risco é a União Europeia aumentar sua capacidade de produção a um ponto que fique mais competitivo importar do que fabricar aqui”, avalia Milad Kalume, da Jato Informações Automotivas.