As estatísticas revelam uma realidade preocupante: pessoas com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) enfrentam um risco significativamente maior de se envolverem em acidentes.
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No Brasil, onde cerca de 5,2% das pessoas entre 18 e 44 anos e 6,1% das pessoas acima de 44 anos são afetadas por esse transtorno de neurodesenvolvimento, é essencial compreender os desafios que esses indivíduos enfrentam ao assumir o volante.
“Se transpusermos esses sintomas para a condução de veículos, veremos que eles representam um aumento do risco de sinistros de trânsito, e, para motoristas com TDAH, esse risco é 2 vezes maior. Estudos comprovam que essas pessoas também cometem mais infrações de trânsito, em geral provocadas por breves períodos de desatenção à sinalização da via“, alerta Alysson Coimbra, diretor científico da Associação Mineira de Medicina do Tráfego (Ammetra).
Medida para aumentar a conscientização e reduzir os riscos
Diante desse cenário preocupante, a Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet) elaborou diretrizes destinadas a orientar médicos do tráfego na realização de exames relacionados à Carteira Nacional de Habilitação (CNH) e a ajudar pessoas com TDAH a adotar práticas seguras ao volante. O objetivo é aumentar a conscientização e reduzir os riscos associados a esse transtorno.
O risco é evidente nos números. “Hoje, no Brasil, fatores relacionados à desatenção estão entre as principais causas de acidentes nas rodovias federais brasileiras. De janeiro a agosto deste ano, 10.155 sinistros de trânsito foram causados por ausência de reação; reação tardia do condutor ou por motoristas que acessaram a via sem observar a presença de outros veículos. Esses sinistros provocaram 692 mortes e deixaram 11.542 pessoas feridas“, revela Coimbra.
As estatísticas epidemiológicas demonstram que o risco de uma pessoa com TDAH se envolver em acidentes automobilísticos é 54% maior. No entanto, estudos observacionais, baseados em dados oficiais e informações autorrelatadas, indicam que esses condutores têm quase o dobro de chances de se envolver em acidentes e, com maior frequência, cometem infrações de trânsito.
É importante lembrar que o tratamento do TDAH envolve psicoterapia e medicação, mas a atenção às práticas seguras ao dirigir é crucial. Coimbra enfatiza: “Substâncias usadas no tratamento do TDAH podem ampliar a inabilidade de conduzir do motorista. A orientação mais importante é a de que o condutor não dirija se não estiver medicado; não utilize o celular assim como jamais dirija se tiver consumido bebidas alcoólicas. O álcool amplia os prejuízos cognitivos e comportamentais e afeta negativamente mais as pessoas com TDAH.”
Além disso, a diretriz da Abramet apresenta algumas recomendações essenciais para os condutores com TDAH, como evitar o uso do piloto automático e preferir o câmbio manual. A atenção ao trânsito, sobretudo em situações que demandam mais concentração, é fundamental. A diretriz também destaca a importância de não comer enquanto dirige, não usar o celular e conhecer as rotas de direção com antecedência sempre que possível.