Desde 2019, o Pantanal enfrenta um dos períodos mais secos das últimas quatro décadas. Um estudo inédito realizado pela ArcPlan e encomendado pelo WWF-Brasil, com financiamento do WWF-Japão, alerta para a pior crise hídrica da história do bioma.
Utilizando dados do satélite Planet, a pesquisa revela que, nos primeiros quatro meses desse ano, a área coberta por água foi menor do que a média do período de seca do ano passado. Ou seja, isso é preocupante, já que esses meses deveriam ser o auge das inundações, essenciais para a manutenção do ecossistema pantaneiro.
Impacto das mudanças climáticas no Pantanal
A Bacia do Alto Rio Paraguai, onde se localiza o Pantanal, costuma ter sua estação chuvosa entre outubro e abril e a seca entre maio e setembro. No entanto, entre janeiro e abril de 2024, a área média coberta por água foi de apenas 400 mil hectares, em comparação com 440 mil hectares durante a seca de 2023. Então, a pesquisa indica que o bioma está cada vez mais vulnerável, aumentando as ameaças à sua biodiversidade, recursos naturais e ao modo de vida da população local.
Os resultados do estudo destacam que as secas extremas e a falta de cheias adequadas podem transformar permanentemente o ecossistema do Pantanal. Em outras palavras, a ausência de inundações afeta diretamente a abundância de espécies de fauna e flora. Isso também tem grandes implicações econômicas, pois a navegabilidade dos rios e a diversidade de fauna são fundamentais para a economia local.
A redução da disponibilidade de água não é causada apenas por eventos climáticos, mas também por ações humanas que degradam o bioma, como construção de barragens, desmatamento e queimadas.
Durante a época das cheias, até 80% da planície pantaneira fica inundada, criando um ambiente rico para a vida selvagem. Afinal, o Pantanal é lar de espécies emblemáticas, como a onça-pintada, a arara-azul e a ariranha. Com a seca prolongada, essas espécies enfrentam maior risco de extinção. A onça-pintada, por exemplo, já é um felino ameaçado, com sua população brasileira em declínio. Ou seja, a caça predatória e a ocupação humana são problemas graves que a seca só agrava.
Seca no Pantanal levanta questionamentos importantes a respeito do meio ambiente. (Foto: Shutterstock)
Ações humanas e a degradação
A construção de barragens e estradas, juntamente com o desmatamento e as queimadas, tem contribuído significativamente para a degradação do Pantanal. Então, esses fatores, combinados com as mudanças climáticas, estão levando o bioma a um ponto de não retorno.
A capacidade de recuperação natural do Pantanal está comprometida, e a perda de espécies pode ser abrupta e grave. A continuidade desses processos degradativos poderá resultar em uma transformação permanente do ecossistema, com consequências devastadoras para a biodiversidade e a economia local.
A importância das inundações para o pantanal
Elas são vitais para o Pantanal, pois renovam o ecossistema e sustentam a vida selvagem e a vegetação. A falta dessas inundações reduz a disponibilidade de água e nutrientes, afetando diretamente a sobrevivência das espécies.
Além disso, a economia local, que depende da pesca e do turismo, sofre com a redução da navegabilidade dos rios e a diminuição da diversidade de fauna. Dessa forma, a pesquisa aponta para a necessidade urgente de ações de conservação e manejo sustentável para evitar a degradação contínua do bioma.