A capacidade humana de lidar com números é uma habilidade complexa e intrigante. Desde a infância, aprendemos a reconhecer, contar e calcular, mas o processo pelo qual o cérebro realiza essas tarefas é uma área de estudo fascinante dentro da cognição numérica.
Essa área investiga como processamos quantidades e números, revelando não apenas nossas habilidades, mas também nossas limitações.
Recentemente, matemáticos têm sugerido a introdução de dois novos numerais em nosso sistema de contagem.
Isso poderia transformar a forma como ensinamos e aprendemos matemática, desafiando uma tradição milenar.
Como o cérebro humano processa números?
Os seres humanos têm um sistema inato para processar pequenas quantidades de forma quase automática. Por exemplo, ao ver um, dois ou três objetos, conseguimos identificar imediatamente a quantidade sem precisar contar.
No entanto, conforme os números aumentam, essa habilidade diminui e começamos a usar estratégias cognitivas, como agrupar em blocos, estimar ou contar individualmente.
Nosso sistema numérico é baseado em símbolos que representam quantidades. O cérebro consegue trabalhar bem com poucos símbolos, como os numerais de 1 a 9, mas quando precisamos lidar com grandes números, subdividimos as quantidades em agrupamentos menores, como as dezenas.
Isso se deve à forma como nossa memória lida com informações simbólicas: é mais eficiente trabalhar com padrões menores e familiares, como agrupamentos de dez, do que com uma quantidade infinita de símbolos únicos.
A base 10 e a influência biológica
O sistema decimal, amplamente utilizado, é diretamente influenciado pela biologia humana — temos dez dedos, o que naturalmente levou à adoção do agrupamento em base 10.
Mas essa escolha é arbitrária. Historicamente, diferentes civilizações, como os babilônios, usaram outras bases numéricas, como a base 60.
E hoje, há um movimento entre matemáticos que defende a transição para a base 12, alegando que ela seria mais eficiente do ponto de vista prático.
O sistema duodecimal, ou base 12, oferece vantagens que o sistema decimal não possui.
Por exemplo: o número 12 tem mais divisores (2, 3, 4, 6) do que 10, o que facilita operações de divisão e multiplicação, além de reduzir a ocorrência de dízimas periódicas, comuns no sistema decimal.
Isso teria impacto direto no ensino, tornando cálculos diários mais simples para estudantes e profissionais.
A proposta de dois novos numerais
Matemáticos estão propondo a adição de dois novos símbolos ao nosso conjunto numérico, a fim de facilitar a transição para sistemas como o duodecimal.
Esses novos numerais permitiriam que representássemos de forma mais eficiente os valores de 10 e 11 no sistema atual, eliminando a necessidade de combinações de dígitos para expressar esses números.
A proposta visa tornar o sistema de contagem mais intuitivo e eliminar certas inconsistências presentes no sistema decimal, especialmente no ensino de frações e divisões complexas.
Michael de Vlieger, membro da Dozenal Society of America, é um dos principais defensores dessa mudança.
Ele acredita que a base 12 poderia simplificar o aprendizado da matemática, especialmente nas primeiras etapas educacionais.
Segundo ele, ao mudar a base numérica e introduzir novos símbolos, estaríamos oferecendo às crianças um sistema mais simples de entender e trabalhar.
Imagine, por exemplo, como seria mais fácil aprender as tabuadas se os múltiplos de 3, 4 e 6 seguissem padrões mais regulares, como ocorre na base 12.
Como isso impactaria o ensino de Matemática?
A introdução de novos numerais exigiria uma reformulação significativa no ensino da matemática. Não apenas novos conteúdos teriam de ser criados, mas também os professores precisariam ser capacitados para ensinar esse novo sistema.
No entanto, a longo prazo, os benefícios poderiam ser consideráveis. Estudantes teriam menos dificuldade em aprender frações e divisões, uma vez que muitas das complexidades da matemática decimal seriam eliminadas.
Outro ponto importante é que a base 12 facilita a visualização de conceitos matemáticos complexos.
Por exemplo, dividir algo em partes iguais entre três pessoas resulta em uma fração simples na base 12, enquanto no sistema decimal enfrentamos o problema das dízimas periódicas, como 0,333…
Isso torna a matemática menos abstrata e mais prática, o que poderia aumentar o engajamento dos estudantes e melhorar os resultados em avaliações.
Ainda que a implementação de uma nova base numérica e a inclusão de novos numerais pareçam distantes, a proposta levanta uma discussão importante sobre como pensamos e ensinamos números.
*Com informações de Super Interessante.