A crescente incidência da vigorexia em adolescentes, também conhecida como dismorfia muscular, tem acendido um sinal de alerta entre profissionais da saúde física e mental.
Trata-se de um transtorno psicológico caracterizado pela obsessão com o corpo musculoso, geralmente acompanhada de uma percepção distorcida da própria imagem corporal.
Embora silenciosa, essa condição tem se espalhado rapidamente, impulsionada por pressões estéticas, redes sociais e padrões de beleza cada vez mais inatingíveis.
O que é vigorexia e por que ela preocupa?
A vigorexia é um distúrbio que afeta principalmente adolescentes e jovens adultos, levando-os a acreditar, de forma persistente, que seus corpos não são suficientemente fortes, grandes ou definidos, mesmo quando exibem um desenvolvimento muscular acima da média.
Essa insatisfação constante com a aparência leva à prática excessiva de atividades físicas, dietas extremamente restritivas e, em casos mais graves, ao uso de esteroides anabolizantes.
Diferente de outros transtornos alimentares, a dismorfia muscular está inserida no espectro dos transtornos dismórficos corporais e se manifesta por meio de uma autoimagem comprometida, na qual o adolescente se enxerga como pequeno ou fraco, ainda que seu físico seja considerado atlético por padrões objetivos.
Adolescência e riscos emocionais
Foto: iStock
A adolescência é um período naturalmente marcado por transformações corporais intensas, conflitos de identidade e inseguranças.
Nesse contexto, a pressão estética pode encontrar terreno fértil para se transformar em obsessão. Quando o desejo por um corpo idealizado começa a comprometer a saúde física, emocional e social, estamos diante de um quadro preocupante.
Estudos indicam que a vigorexia afeta majoritariamente adolescentes do sexo masculino, mas casos em meninas também têm sido registrados.
Os comportamentos compulsivos incluem: treinos exaustivos, uso exagerado de suplementos, controle alimentar rígido, isolamento social e até o abandono de atividades escolares e familiares para manter a rotina de academia.
Redes sociais e a construção de um ideal inatingível
A influência das redes sociais é um dos principais fatores contemporâneos que contribuem para o avanço da vigorexia. Plataformas como Instagram, TikTok e YouTube exibem constantemente imagens de corpos hipermusculosos, muitas vezes editadas ou alcançadas com a ajuda de substâncias proibidas.
Essas representações distorcidas da realidade alimentam a ideia de que o corpo perfeito é possível — e necessário — a qualquer custo.
O problema se agrava quando há pressão do ambiente social: comentários sobre o corpo entre colegas, comparações constantes ou a supervalorização da aparência física podem funcionar como gatilhos.
O mesmo vale para ambientes familiares em que o peso ou a aparência são tratados como indicadores de valor pessoal.
Principais sinais da vigorexia em adolescentes
A detecção precoce da dismorfia muscular em adolescentes pode ser decisiva para evitar complicações mais graves. Veja alguns sinais de alerta para pais, professores e cuidadores:
- Exercícios em excesso: a rotina de treinos interfere em compromissos escolares, sociais ou familiares.
- Obsessão alimentar: adoção de dietas extremamente restritas, consumo elevado de proteínas e suplementos.
- Auto-observação compulsiva: olhar-se constantemente no espelho, medir músculos, evitar roupas que revelem o corpo.
- Alterações emocionais: irritabilidade, ansiedade e tristeza quando não podem treinar.
- Uso de substâncias: em estágios mais avançados, há risco de uso de anabolizantes, com efeitos severos sobre o fígado, o coração e os hormônios.
Foto: iStock
Os impactos da vigorexia em adolescentes vão muito além da academia. No corpo, podem surgir lesões por sobrecarga, déficits nutricionais, desequilíbrios hormonais e danos severos pelo uso de esteroides.
No aspecto emocional, há uma forte associação com ansiedade, depressão, baixa autoestima, isolamento social e dificuldades em manter relações saudáveis.
Esse transtorno pode comprometer o desenvolvimento emocional e acadêmico do jovem, aprisionando-o em um ciclo de insatisfação e frustração, no qual o corpo nunca é bom o suficiente e o medo constante de julgamento domina a rotina.
Combater a dismorfia muscular em adolescentes exige uma abordagem preventiva, baseada na educação emocional, na valorização da diversidade corporal e no fortalecimento da autoestima.
Mostrar que saúde e bem-estar vão muito além da aparência física é essencial para criar uma nova cultura, mais equilibrada e menos pautada por padrões irreais.