A Amazônia continua revelando descobertas que mudam a forma como a ciência entende o planeta, e a mais recente delas envolve um microrganismo com potencial para transformar o combate à poluição.
Pesquisadores identificaram o fungo Pestalotiopsis microspora, uma espécie rara encontrada no Parque Nacional Yasuni, capaz de decompor poliuretano, um dos tipos de plástico mais difíceis de degradar na natureza.
A descoberta reacende debates sobre soluções biotecnológicas para o lixo plástico e destaca, mais uma vez, o valor ecológico e científico da floresta amazônica.
Por que o poliuretano desafia a natureza?
O poliuretano está presente em colchões, espumas, revestimentos, isolantes, solados de calçados e centenas de produtos industriais. Sua durabilidade e resistência o tornaram indispensável ao mercado, mas também um problema ambiental grave.
Por possuir uma estrutura molecular extremamente estável, o material pode permanecer intacto por décadas, acumulando-se em solos, rios, aterros e até ecossistemas protegidos.
A decomposição natural do poliuretano é limitada porque a maioria dos microrganismos não reconhece suas ligações químicas complexas como fonte de energia. Isso faz com que o plástico se torne um resíduo persistente, ampliando os impactos da poluição global.
Como o fungo consegue degradar plástico?
Foto: Gemini
Os cientistas descobriram que o Pestalotiopsis microspora utiliza o poliuretano como fonte de carbono, transformando o plástico em energia para seu próprio desenvolvimento.
Essa capacidade vem da ação de enzimas serina-hidrolases, que quebram as longas cadeias do polímero em fragmentos menores e assimiláveis.
Um detalhe especialmente promissor: o fungo mantém sua capacidade degradadora mesmo em ambientes anaeróbicos, ou seja, sem oxigênio.
Isso abre portas para aplicações em aterros, locais profundos, áreas contaminadas e sistemas fechados de tratamento de resíduos, algo que poucos organismos conseguem realizar.
Os desafios para transformar o fungo em solução industrial
Embora a descoberta seja empolgante, aplicar o fungo em escala comercial exige superar obstáculos tecnológicos e ambientais. Entre os principais desafios estão:
- Controle rigoroso de umidade, nutrientes e temperatura;
- Desenvolvimento de biorreatores capazes de manter produção estável;
- Monitoramento dos subprodutos da decomposição;
- Avaliação dos impactos ecológicos caso o fungo seja liberado no ambiente.
A segurança biológica é um ponto central: é necessário garantir que o organismo não interfira negativamente em ecossistemas nativos ou em cadeias naturais de decomposição.
Biotecnologia e biorremediação: o futuro do combate ao plástico
O interesse por fungos e bactérias degradadores de plástico cresce em todo o mundo. Pesquisadores já avaliam combinações entre microrganismos, reciclagem química, manejo sustentável e até sistemas híbridos que unem engenharia e biologia.
Entre os benefícios esperados estão:
- Redução da dependência de aterros sanitários;
- Diminuição de resíduos persistentes;
- Processos produtivos mais sustentáveis;
- Novas ferramentas para enfrentar a crise global do plástico.
Curiosamente, alguns estudos apontam que os fungos amazônicos possuem mecanismos semelhantes aos dos cupins, capazes de digerir compostos complexos, reforçando o enorme potencial da biodiversidade tropical.
Qual o papel do fungo amazônico no futuro da Amazônia e do planeta?
O avanço científico sobre o Pestalotiopsis microspora demonstra como a biodiversidade amazônica continua sendo um laboratório natural para soluções ambientais. Embora o uso do fungo ainda esteja em fase experimental, seu potencial é indiscutível.
À medida que novas pesquisas surgem, é possível que o microrganismo participe de tecnologias inovadoras de biorremediação, integrando sistemas sustentáveis de tratamento de plástico.
A partir disso, a natureza segue oferecendo respostas para desafios modernos, e a ciência, cada vez mais, aprende a ouvi-la.
