O conceito de carro “popular” parece ter chegado ao fim em 2022. Hoje, o carro mais barato do Brasil custa a partir de R$ 59.890, preço bem longe de ser acessível às classes mais pobres. O veículo em questão é o Renault Kwid, que há apenas três anos tinha preço inicial de R$ 33.290.
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Essa espécie de categoria foi criada no país em em 1993, quando o governo federal fixou o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) em 0,1% para carros com motor 1.0. A medida popularizou modelos como Fiat Uno Mille e Volkswagen Gol 1000.
Em 1995, o imposto foi para 7%, ficando alto até 2008, quando houve uma nova isenção. Na época, o preço do Fiat Mille passou de R$ 23.470 para R$ 21.827 por conta da redução. Nos últimos anos, o fim de incentivos semelhantes à indústria automotiva foi tirando o carros populares das prateleiras.
Quem é o culpado?
Vários fatores que explicam a mudança, afirma o consultor automotivo Cassio Pagliarini. “Houve uma inflação de commodities – como aço, alumínio, vidro e plástico – muito grande e que, como são precificadas em dólar, que também aumentou, fez os efeitos se multiplicarem. Somente a variação dos custos já fez o preço dos carros subir”, diz.
Além disso, as exigências legais sobre os veículos estão ficando mais rígidas, a exemplo de airbags e freios ABS. “Quando os airbags e os freios ABS passaram a ser obrigatórios, por exemplo, alguns carros deixaram de ser produzidos, como o antigo Uno. O mesmo acontece com as exigências atuais.”
“Temos determinações do Proconve em relação a emissões, e medidas de segurança como controle de estabilidade. Colocar equipamentos caros em veículos baratos dá um forte impacto nos preços, não à toa os carros de entrada do mercado brasileiro partem de R$ 60 mil, o que era impensável dois anos atrás”, explica.
Ricardo Bacellar, fundador da Bacellar Advisory Boards e Conselheiro da SAE Brasil, também aponta uma mudança na estratégia das montadoras como responsável pelo cenário atual. Segundo ele, a pandemia acabou com o modelo de vendas voltado para o volume, fazendo com que a indústria automotiva tivesse que “apostar em veículos com maior valor agregado”.
Aumento é generalizado?
Outros países também foram afetados pelo aumento do preço da matéria-prima e escassez de semicondutores vividos durante a pandemia. Contudo, o carro popular continua existindo na maioria deles.
Nos Estados Unidos, por exemplo, o Mitsubishi Mirage novo sai por US$ 14.645. Embora o valor ultrapasse os R$ 75 mil em conversão direta, o salário mínimo no país gira em torno de US$ 1.160, cerca de R$ 6 mil.
O carro mais barato vendido na Alemanha, o Dacia Sandero, sai por 8.990 euros, ou R$ 52.679. Por lá, o salário mínimo é de 1.672 euros, aproximadamente R$ 9.800.