Em abril, 77,7% das famílias brasileiras terminaram o mês com dívidas a vencer, mostram dados do levantamento mensal da Confederação Nacional do Comércio de Bens e Turismo (CNC). Três em cada dez entrevistados afirmaram estar com contas atrasadas no mês passado.
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O nível é o maior desde o início da série histórica da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), em janeiro de 2010. Ele também ficou cerca de 10% acima do registrado em abril de 2021, quando chegou a 67,5%.
Tanto as famílias com renda de até dez salários mínimos mensais (R$ 12.120), quanto as que ultrapassam esse patamar ficaram mais endividadas. O percentual entre o segundo grupo é ainda maior, alcançando 78,6%. No caso do primeiro, ele ficou em 74,5%.
“A inflação alta, persistente e disseminada (IPCA em 11,3% ao ano), mantém elevadas as necessidades de crédito para recomposição da renda, fazendo com que as famílias encontrem nos recursos de terceiros uma saída para manter seu nível de consumo”, afirma a CNC.
Consumidores com contas ou dívidas em atraso representam 28,6% das famílias, mais de 4 pontos percentuais a mais do que o apurado no mesmo período do ano passado.
Cartão de crédito
No topo da lista de dívidas a vencer está o cartão de crédito, despesa que atinge 88,8% dos entrevistados. Na esteira vêm carnês de loja (18,2%), financiamento de carro (11,2%), crédito pessoal (9,4%) e financiamento de casa (8,3%).
“É preciso compreender que o limite disponibilizado no cartão é um recurso virtual que vai ter um custo alto, se não for usado adequadamente. É o maior vilão do orçamento, mas é um produto que sabendo usar pode dar muitas facilidades para as famílias. O aconselhável é ter um ou dois no máximo, e que a pessoa organize o orçamento e peça, por exemplo, a redução do limite, para que seja compativel com a renda e o padrão de vida”, avalia Rosi Ferruzzi, planejadora financeira da Planejar.
A dica da especialista é planejar uma estratégia para quitar o débito. “A estratégia de quitação tem que ser muito bem pautada para que as pessoas possam otimizar as oportunidades. O ideal é conseguir guardar algum recurso antes de tentar quitar, montar uma reserva de segurança para então buscar a renegociação”, diz Ferruzzi.
Aquele que não puder pagar de uma vez só tem a opção de parcelar. O empréstimo só é uma alternativa quando os juros forem menores, explica a especialista.
“Parcelar por ser uma saída porque dá um certo fôlego, já que vai caber no bolso naquele momento, mas se fizer só isso e não cortar o mal pela raiz, cortando por exemplo consumo por impulso de coisas desnecessárias no momento, quando conseguir pagar tudo que estava em débito, pode estar endividado novamente. E se já estiver com o nome negativado, o débito acaba indo para a Serasa. Então, a pessoa terá condições de pagar menos, aproveitando os descontos dos feirões de renegociação, por exemplo”, conclui.