O Auxílio Brasil substituiu o Bolsa Família no fim do ano passado como o maior programa de transferência de renda do país. A troca teve como objetivo desvincular o projeto dos governos do PT, além de promover uma identidade mais ligada ao presidente Jair Bolsonaro.
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A iniciativa atualmente atende mais de 18,1 milhões de famílias em situação de pobreza e extrema pobreza com um benefício mínimo de R$ 400. O Bolsa Família chegava a 14,6 milhões com um tíquete médio de R$ 190.
Até dezembro deste ano, o valor foi reajustado para R$ 600 e espera-se a inclusão de mais 2,2 milhões de lares. O número representa 26% da população total do país.
Valores desatualizados
O aumento na quantidade de pessoas aguardando a inclusão no programa é um sintoma do empobrecimento da população brasileira. Especialistas apontam o difícil acesso é resultado das dificuldades no cadastramento e da desatualização nos critérios de acesso.
De acordo com os economistas Alysson Portella e Sergio Firpo, do Insper, pelo menos 8,3 milhões pessoas teriam direito a pedir o benefício se houvesse reajuste integral no valor que delimita a linha da pobreza pela inflação desde 2004, quando o Bolsa Família foi criado.
Em janeiro daquele ano, a linha da pobreza e extrema pobreza eram de R$ 100 e R$ 50, respectivamente. Hoje, elas são de R$ 210 e R$ 105 mensais, nessa ordem.
Corrigindo os valores de acordo com o IPCA acumulado no período, elas subiriam para R$ 143 (extrema pobreza) e R$ 287 (pobreza). Se isso ocorresse, mais 8.265.501 brasileiros teriam direito a solicitar o Auxílio Brasil.
Ineficiência
Mesmo com a correção nos valores, a falta de foco torna o programa pouco eficaz no combate à pobreza, afirma Bruno Paixão, pesquisador da FGV. Segundo ele, uma estratégia eficiente seria distribuir os recursos de acordo com o número de pessoas em cada família.
“Você poderia atender a muitas mais pessoas, com o mesmo recurso, seria mais efetivo. O programa é ineficiente nisso. Do jeito que está hoje não há distinção das vulnerabilidades”, completa.
“Quando você tem esse critério do ‘é pobre ou não é pobre’ pela renda, é difícil captar essa diferença, porque a renda dessas pessoas flutua muito de um mês para o outro. Temos uma proporção de pobres menor que há um ano, mas a massa de pessoas que estão um pouco acima da linha de pobreza é alta, e elas correm o risco de voltar à pobreza”, finaliza Sergio Firpo, do Insper.