A Americanas SA, varejista brasileira que tem o bilionário Jorge Paulo Lemann entre seus principais financiadores, está à beira do colapso após a saída de seu novo diretor-presidente após encontrar bilhões de dólares em “inconsistências” em sua contabilidade.
A ação foi leiloada na Bovespa, com lances a um preço de 2,72 reais, o que sugere uma queda de 77,33% em relação a ontem (11). A crise se espalhou para outros varejistas brasileiros, com Via SA e Magazine Luiza SA caindo até 16%.
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Bancos como Morgan Stanley, Itaú BBA e Bradesco BBI correram para revisar suas previsões para a empresa sediada no Rio de Janeiro após a notícia. As questões destacadas na declaração incluem dívidas com bancos de acordos de financiamento de fornecedores que não são adequadamente contabilizados nas demonstrações financeiras de 30 de setembro.
“Temos uma visão limitada sobre a extensão das inconsistências contábeis”, escreveram em nota os analistas do Morgan Stanley, liderados por Andrew Ruben, alterando a classificação das ações de Overweight para Unrated.
O processo, enviado aos reguladores de valores mobiliários na quarta-feira, chocou os investidores que começaram a comprar ações da Americanas em uma demonstração de confiança na capacidade de Sergio Rial de transformar a empresa. Rial, que dirigiu a unidade brasileira do Banco Santander SA entre 2016 e 2021, conversou com investidores por telefone na manhã desta quinta-feira e disse que a empresa tinha mais dívidas do que o mercado pensava e precisava de capital.
“É de partir o coração”, disse Rial. “Mas é uma oportunidade de ter conversas difíceis.”
Lemann e seus parceiros de negócios de longa data da 3G, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, colocaram dinheiro pela primeira vez na varejista brasileira em 1982. Lemann perdeu R$ 2 bilhões apenas nesta quinta-feira (12) com o escândalo da Americanas.
Ele e seus sócios atualmente possuem cerca de 31% de participação e disseram ao conselho que pretendem continuar apoiando a empresa, de acordo com o documento.
Rial disse que trabalhará com o trio de apoiadores de longa data para colocar o navio de volta nos trilhos e disse que tem uma “obrigação moral” de oferecer seu apoio e, ao mesmo tempo, pedir desculpas aos investidores.
Lemann, Telles e Sicupira “construíram empresas de importância global que permitem às empresas brasileiras competir com qualquer outro player do mundo”, disse Rial na conferência de investidores realizada na sede do Banco BTG Pactual em São Paulo.
Sicupira e o filho de Lemann, Paulo Alberto, fazem parte do conselho da Americanas. De acordo com o Bloomberg Billionaires Index, Lemann é a 70ª pessoa mais rica do mundo, com um patrimônio líquido de US$ 21,6 bilhões.
Junto com a Rial, o diretor financeiro Andre Covre também optou por sair, disse a empresa. Rial será substituído interinamente por João Guerra, que também assumirá a função de Diretor de Relações com Investidores da Covre. O Conselho de Administração da Americanas constituiu um comitê independente para apurar a situação.
A Americanas, cujo valor de mercado era de R$ 11 bilhões no fechamento de quarta-feira, disse esperar que o impacto no caixa dessas inconsistências seja imaterial, mas acrescentou que ainda não pode determinar o impacto dos resultados em seu balanço.
A Americanas tem mais de 1.700 lojas em todo o Brasil vendendo de tudo, de TVs a geladeiras, e também possui uma seção de e-commerce. Possui um braço de serviços financeiros, lojas de roupas infantis e recentemente adquiriu uma rede de mercados de frutas frescas, vegetais e mercearias.
Em 2021, a Lojas Americanas se fundiu com sua unidade de e-commerce B2W para se tornar apenas Americanas. Como parte do acordo, os sócios da 3G renunciaram ao controle da empresa, mas continuaram sendo seu maior acionista. Em seu último relatório de ganhos, listou mais de 40.000 funcionários e cerca de 53 milhões de usuários ativos.