scorecardresearch ghost pixel



Por que a contabilidade de Magalu e Via expõe problema na Americanas?

Prática de contabilidade adotada pela Americanas é bem diferente das suas concorrentes. Entenda como funciona.



O mercado está até agora tentando compreender como a Americanas tem R$ 20 bilhões acumulados em inconsistências contábeis somente na estimativa inicial. Ontem, 12, o dia começou com o anúncio de Sérgio Rial, que foi CEO da companhia por apenas nove dias, informando o “rombo” aos investidores

Leia mais: Rombo nas Americanas pode atrapalhar no cancelamento de compras?

A situação respingou em outras varejistas, como Magazine Luiza e Via, que começaram o pregão com quedas de cerca de 8% e 7%, nessa ordem. Ao longo do dia, a Magalu reverteu a situação e fechou com a maior alta do Ibovespa. Já a Via teve desvalorização de 5,38%.

Também no pregão de ontem, as ações da Americanas despencaram 77,33%, reduzindo em R$ 8,6 bilhões o valor de mercado da empresa, antes de R$ 11 bilhões. Mas o que diferencia essas três empresas? A resposta é: escolhas relacionadas à contabilidade.

Diferença crucial

No Brasil, sempre que uma varejista solicita a bancos prazo extra para pagar o fornecedor, a dívida precisa ser incluída no balanço patrimonial como um passivo, mas de forma diversa. A Via informa a pendência como “fornecedor convênio”, já que que natureza do risco também muda.

A Magalu não utiliza financiamentos bancários para pagar fornecedores com prazo extra, pelo contrário, a companhia auxilia bancos parceiros, fornecedores na antecipação de recebíveis. Assim, ele vira devedora das instituições financeiras, mas o pagamento é feito no mesmo prazo concedido pelo fornecedor. Todos os valores são lançados na mesma linha de fornecedores.

Quando esses contratos são feitos, a média do setor é ampliar o pagamento por um prazo entre 60 e 90 dias. A Americanas, por outro lado, estendia por 360 dias. Além disso, a empresa não informa em seus balanços as operações financeiras relacionadas aos fornecedores.

Outra diferença é a despesa financeira. Sempre que um banco oferece prazo extra ao varejo, ele cobra juros, que podem ser lançados no balanço como um aumento do custo de produtos ou como despesa financeira. Seja como for, é sempre um redutor do lucro líquido.

Como a Magalu não usa prazos adicionais, a empresa computa até uma certa receita quando o fornecedor desconta um recebível com bancos parceiros. O banco paga essa espécie de comissão porque o risco de crédito é mais seguro, justamente por ser do Magazine Luiza.

No caso da Americanas, a empresa usa um prazo extra bem maior, o que também eleva os custos. Considerando a Via, por exemplo, a taxa de juros desses contratos chega a quase 19% ao ano para um prazo médio de 90 dias.

Em uma manobra inexplicável e arriscada, a Americanas pega os juros pagos pela ampliação do prazo e abate a quantia do valor absoluto do passivo com fornecedores do balanço patrimonial. O resultado é uma majoração do lucro e uma uma redução falsa do passivo com fornecedores.

Compromissos com fornecedores

Embora seja bem menor que as duas concorrentes, a companhia reportou R$ 5 bilhões em compromissos com fornecedores em setembro, contra R$ 8,6 bilhões e R$ 9,5 bilhões da Magazine Luiza e Via.

Ao apresentar o rombo aos investidores, Rial antecipou que a conta da empresa com fornecedores está em torno de R$ 15 bilhões a R$ 16 bilhões, levando em conta os compromissos bancários. A explicação é que a ampliação dos prazos bem acima da média sobrepõe os pagamentos, e agora a Americanas não tem como pagar todos os juros devidos neste ano.

Para reparar os problemas, a varejista teria que apresentar lucros menores todos os anos, até mesmo chegando a apresentar prejuízo na demonstração, além de passivos maiores.




Veja mais sobre

Voltar ao topo

Deixe um comentário