No primeiro trimestre de 2023, o PIB do Brasil surpreendeu positivamente, crescendo 1,9%, impulsionado pelo setor do agronegócio, que teve um crescimento de 21,6%. Mas em um olhar mais profundo para os dados do IBGE, algo chama a atenção.
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Isso porque, ao analisar dados, é possível observar uma tendência de desaceleração do consumo das famílias nos últimos trimestres.
No período de janeiro a março deste ano, o consumo das famílias registrou um leve aumento de 0,2%, marcando uma nova desaceleração. Nos últimos três meses de 2022, o indicador já havia apresentado uma alta de 0,4%, mostrando um enfraquecimento em relação aos trimestres anteriores.
Na prática, o consumo das famílias vem diminuindo e contribuindo cada vez menos para o crescimento do PIB desde o início do ano passado.
Assim, mesmo com aumentos no salário mínimo e no Bolsa Família promovidos pelo governo, as famílias brasileiras continuam com orçamentos apertados, destinando a maior parte de seus recursos para contas básicas. Você tem passado por isso em casa ou ouvido relatos parecidos com esses?
PIB do Brasil cresce, mas não pelo consumo das famílias
Por conta do fenômeno, especialistas têm apontado algumas razões para essa desaceleração:
- Inflação elevada: nos últimos dois anos, o país enfrentou um período de inflação alta, principalmente em relação a produtos essenciais, como eletricidade, combustíveis e alimentos.
- Política monetária restritiva: os juros altos dificultam o acesso ao crédito, tornando-o mais escasso e caro. Isso compromete ainda mais a renda das famílias.
- Baixos salários: mesmo com a melhora no mercado de trabalho, os níveis salariais ainda são baixos. Isso desestimula o consumo de itens não essenciais.
Na visão dos especialistas, a inflação desempenha um papel importante nessa desaceleração. Os preços de diversos produtos aumentaram, afetando o poder de compra das famílias. Embora o índice de inflação tenha desacelerado, os preços continuam elevados, fazendo com que as famílias consumam suas reservas para manter seu padrão de vida.
Além da inflação, os juros altos dificultam o consumo, uma vez que as parcelas de financiamento ficam maiores. O dinheiro acaba sendo direcionado para o pagamento dessas parcelas, reduzindo o poder de compra das famílias.
Sem os estímulos do governo, como o aumento do salário mínimo e do Bolsa Família, o consumo das famílias poderia ter caído ainda mais neste trimestre. O endividamento ainda está elevado, e a expectativa é que os juros permaneçam altos, o que limita o acesso ao crédito e impede um crescimento maior do consumo.
Olhando para os dados, vemos que, atualmente, as famílias destinam a maior parte de sua renda para o pagamento de contas básicas, como moradia e alimentação. O dinheiro restante é direcionado para produtos com baixo valor agregado, enquanto itens de maior valor continuam pouco atrativos devido aos preços elevados e aos custos do crédito.
Esses fatores contribuem para a desaceleração do consumo das famílias, afetando o crescimento econômico do país.