Quem não adora a imagem de avós cuidando dos netos em um parquinho numa tarde de sol? É uma cena encantadora que remete ao carinho, sabedoria e vínculo especial entre gerações. No entanto, o que parece ser um retrato feliz para uns, tornou-se uma obrigação para outros, com consequências que vão além das aparências.
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A seguir, vamos entender como alguns avós se recusam a assumir o papel de cuidadora, estabelecendo limites claros quando se trata de tomar conta dos netos.
A história de Cayetana Campo: uma avó com limites
Cayetana Campo, uma mulher de 71 anos que divide seu tempo entre Benavente, no norte da Espanha, e Madrid, é um exemplo de avó que deixou claro desde o início que não queria ser uma cuidadora principal. Ela comunicou sua decisão aos quatro filhos quando eles começaram a formar famílias estáveis.
Cayetana afirma: “Fui clara sobre isso. Tenho quatro filhos, e se você faz isso com um, tem que fazer com todos.”
Para Cayetana, a diferença entre ajudar ocasionalmente e assumir um papel de cuidador em tempo integral é fundamental. Ela acredita que, embora esteja disposta a ajudar em situações específicas, como buscar as crianças na escola quando necessário, ela não está disposta a assumir a “bronca” o tempo todo.
Ela tem sua própria vida e, após a aposentadoria, deseja ter tempo para suas próprias atividades. Cayetana critica a ideia de que os avós devem estar disponíveis o tempo todo para cuidar dos netos, dizendo: “Tenho visto avós que pegam os netos de manhã, os levam para a escola, alimentam e até mesmo ficam com eles quando os filhos saem de férias.”
Estabelecendo limites e combatendo o sentimento de culpa
O psicólogo Ángel Rull observa que muitos avós que atende enfrentam o dilema de impor limites e buscar um equilíbrio entre suas próprias necessidades e as necessidades de seus filhos e netos. A pressão social e o estigma em torno do papel tradicional dos avós como cuidadores tornam ainda mais difícil para eles expressar seus desejos, muitas vezes ocasionando o sentimento de culpa.
José Augusto García Navarro, presidente da Sociedade Espanhola de Geriatria e Gerontologia, comenta que muitos avós ainda se sentem obrigados a cumprir esse papel de cuidador, mas é uma avaliação injusta rotulá-los como egoístas por quererem preservar sua independência na velhice.
Encontrando um equilíbrio saudável
Os especialistas recomendam a importância de encontrar um meio-termo. Isso significa que os avós mais velhos podem desfrutar da autonomia, do tempo livre e da saúde que possuem, mas também podem apoiar seus filhos e netos de maneira razoável.
A síndrome do avô explorado, caracterizada pela pressão para que eles cuidem dos netos, é um fenômeno que afeta muitas famílias na Europa e na América Latina.
A dificuldade em conciliar trabalho e vida familiar, juntamente com a falta de recursos e creches públicas, torna os avós essenciais para o cuidado das crianças. No entanto, buscar um equilíbrio é crucial para garantir que não sofram de estresse e esgotamento.
A Sociedade Espanhola de Geriatria e Gerontologia (SEGG) enfatiza a importância da comunicação aberta com os filhos, do conhecimento das condições de saúde e da definição de limites desde o início. Dizer “não” aos filhos quando necessário não é errado, mas sim uma forma de preservar o bem-estar de todos os membros da família.