Há seis meses, a Universidade de Gotemburgo enfrentou uma situação inesperada: o submarino autônomo Ran, no qual investiram 3,4 milhões de euros, foi perdido nas águas geladas da Antártica.
Embora a notícia tenha sido um duro golpe, os dados coletados pelo Ran antes de sua perda forneceram informações valiosas sobre a chamada “geleira do juízo final”, a Thwaites. Esta geleira é uma das mais significativas do planeta, não apenas pelo seu imenso volume, mas também por sua potencial influência no aumento do nível do mar.
Caso derreta completamente, a Thwaites poderia elevar o nível dos oceanos em mais de meio metro, o que explica o apelido apocalíptico que recebeu.
As informações inéditas obtidas pelo submarino
Geleiras de Thwaites (Foto: Getty Images)
Antes da operação do submarino Ran, muito do que se sabia sobre essa geleira vinha de medições de satélite e amostras de gelo. No entanto, com o submarino autônomo, os cientistas conseguiram mapear em alta resolução as características do lado submerso da geleira, proporcionando um novo nível de detalhes sobre a área.
Operando por quase um mês, o submarino coletou dados fundamentais sobre a plataforma de gelo Dotson, ligada à Thwaites. A análise dessas informações trouxe à tona detalhes intrigantes sobre a dinâmica do derretimento do gelo na região.
Entre as informações mais reveladoras está o impacto das correntes submarinas, que geram erosão na camada de gelo e aceleram o derretimento, especialmente no lado oeste da Plataforma Dotson.
Essa descoberta explica por que essa área tem derretido mais rapidamente do que outras partes da geleira, levantando preocupações sobre a estabilidade futura da Thwaites e suas consequências globais.
O trabalho, publicado recentemente na revista Science Advances, oferece uma nova visão sobre a importância da geleira Thwaites no contexto das mudanças climáticas globais, especialmente em relação à elevação do nível do mar.
Irregularidades surpreendem cientistas e levantam novas questões
Além das informações esperadas, os dados compilados pelo Ran trouxeram à tona algumas surpresas. Irregularidades na superfície subaquática da geleira, semelhantes a dunas em um deserto, foram detectadas.
A equipe de pesquisa continua investigando o que pode estar causando essas formações, mas suspeita que o fluxo de água desempenhe um papel importante nesse fenômeno.
Essas descobertas não só ampliam o entendimento atual sobre a dinâmica das geleiras, mas também indicam que ainda há muito a ser aprendido sobre a Thwaites.
Logo, as informações obtidas por Ran abrem novas linhas de pesquisa e questionamentos que podem redefinir como enxergamos o impacto das mudanças climáticas nas regiões polares.
