Por que a dipirona é proibida em vários países, mas não no Brasil?

Um efeito colateral específico é o 'vilão' dessa história.



A dipirona, medicamento acessível e popular no Brasil, levanta debates calorosos em diversos países.

Embora tenha vendido mais de 215 milhões de doses apenas em 2022, segundo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), sua utilização é um ponto de discórdia global.

Esta droga é comercializada no Brasil, mas, por exemplo, está banida nos Estados Unidos e em algumas partes da Europa.

A causa principal dessa discordância é a agranulocitose, uma complicação sanguínea rara e grave, associada à dipirona. O temor desse efeito colateral suscitou a proibição da dipirona em várias nações há décadas.

Apesar disso, o medicamento continua sendo uma escolha frequente, sobretudo para tratar quadros de dores e febres no Brasil.

Controvérsias e evidências científicas

O debate quanto à segurança da dipirona começou nos anos 1960 e 1970, quando estudos iniciais sugeriram riscos de agranulocitose.

A similaridade química com a aminopirina levou à proibição pelo FDA em 1977. Outros países seguiram o exemplo americano, aumentando as dúvidas sobre o uso seguro do medicamento.

Estudos recentes e reavaliações

Na década de 1980, novas pesquisas, como o Estudo Boston, revelaram uma incidência baixa de agranulocitose associada à dipirona.

Este estudo, que envolveu 22,2 milhões de indivíduos em oito países, encontrou um risco de 1,1 caso para cada milhão de usuários. Esses dados reacenderam a discussão sobre a segurança do medicamento.

A situação da dipirona no Brasil

No Brasil, a segurança da dipirona foi avaliada por um painel internacional organizado pela Anvisa em 2001.

As conclusões indicaram que, para a população brasileira, a dipirona tem riscos semelhantes ou menores que outros analgésicos. A Anvisa reforçou que não há, até o momento, novos alertas ou riscos identificados.

Presença global

A dipirona continua disponível em países como Índia, Alemanha, Rússia e outros, além do Brasil.

A Sanofi e a Hypera Pharma, fabricantes de Novalgina e Neosaldina, defendem sua segurança e eficácia, enfatizando seu uso por milhões de pacientes ao longo de um século.

Uso e eficácia

Estudos demonstram que a dipirona é eficaz contra dores pós-operatórias, superando placebos. No entanto, a falta de estudos comparativos com outras drogas mais modernas limita sua aceitação em alguns países.

Por outro lado, é fato pacífico que a dipirona compete com os opioides em certos casos clínicos, demonstrando sua potência analgésica.

O Instituto Cochrane destacou a eficácia da dipirona no alívio da dor em 7 a 10 pacientes, superior aos resultados com placebo. Entretanto, a eficácia pode variar conforme as características individuais e os hábitos familiares.

Cuidados no uso

  • Adultos e adolescentes acima de 15 anos: 1 a 2 comprimidos de 500 mg até 4 vezes ao dia;
  • Limite diário: 4 gramas;
  • Atenção especial em pacientes com problemas renais ou hepáticos.

O uso excessivo pode causar sintomas adversos, como enjoo e hipotensão. A dipirona deve ser utilizada com cautela, tendo sempre em mente possíveis alergias ou efeitos colaterais.

A diretora do CRF-SP, Danyelle Marini, destaca que o remédio é seguro, mas requer uso responsável para evitar riscos.




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