Civilização milenar descoberta na Amazônia desafia conceitos históricos

Cidade antiga encontrada na Amazônia equatoriana revela estruturas complexas e desafia visões tradicionais sobre a ocupação da região.



Durante milênios, uma vasta e complexa cidade esteve oculta sob a densa floresta amazônica do Equador. Em janeiro de 2024, cientistas revelaram achados que prometem revolucionar a compreensão histórica da ocupação humana na região.

Liderada pelo Centro Nacional de Pesquisa Científica da França, a pesquisa abriu novas perspectivas sobre as antigas civilizações amazônicas.

As escavações arqueológicas na região de Upano, situada no leste equatoriano, revelaram um extenso sistema de casas e praças interligadas por uma rede de estradas e canais. Esses achados desafiam a percepção de que as baixas altitudes da Amazônia abrigavam apenas pequenos grupos nômades.

A rica fertilidade do solo, próxima a um vulcão, tanto beneficiou quanto possivelmente destruiu essa sociedade esquecida.

Redescobrindo a história amazônica

O uso de tecnologia avançada, como sensores a laser acoplados a um avião, permitiu aos arqueólogos desenterrar vestígios de uma cidade que floresceu há cerca de 2.500 anos. A área abrange 300 km², e as evidências sugerem que entre 10 mil e 100 mil habitantes viveram ali por até um milênio.

Estruturas retangulares, organizadas em torno de praças com plataformas centrais, indicam uma complexa organização social.

A tecnologia LiDAR revelou 6 mil plataformas que variam entre 20 e 10 metros em dimensão e 2 a 3 metros de altura. Algumas dessas estruturas serviam a propósitos cerimoniais, como o complexo de Kilamope, que possui uma plataforma de 140 por 40 metros.

Estradas, caminhos e canais interligam essas plataformas, sugerindo uma área vastamente ocupada e altamente conectada.

Significados das descobertas

Os arqueólogos observaram que algumas estradas eram marcantes pela retidão, implicando um propósito cerimonial ou simbólico.

A descoberta também inclui canais para gerenciar a abundância de água e valas próximas às entradas das cidades, sugerindo ameaças potenciais de grupos hostis.

Conexões entre as plataformas sugerem que uma grande área foi ocupada. (Foto: Stephen Rostain/BBC/Reprodução)

Desde a década de 1970, havia indícios da presença de uma cidade, mas somente agora a pesquisa conseguiu mapear extensivamente a área.

Um legado ainda a ser explorado

Professor José Iriarte, da Universidade de Exeter, destaca a singularidade das descobertas na América do Sul, especialmente as plataformas octogonais e retangulares.

Os habitantes de Kilamope e Upano viviam provavelmente da agricultura, cultivando milho e batata-doce, e possivelmente consumindo “chicha”, uma bebida tradicional à base de milho. Ainda há muito a ser descoberto sobre essas sociedades.

Esse achado não só desafia as ideias eurocêntricas sobre civilização como também abre caminho para uma nova compreensão da Amazônia. Para os pesquisadores, o próximo passo envolve explorar uma área adjacente ainda inexplorada.

A descoberta não apenas ilumina o passado, mas também destaca a resiliência das sociedades antigas frente aos desafios ambientais.




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