Poucos produtos têm uma trajetória tão marcante quanto o Biotônico Fontoura. Criado no início do século 20, o remédio atravessou gerações, sendo lembrado por muitos como solução para falta de apetite e fraqueza — especialmente entre crianças.
Mesmo com a fama consolidada no Brasil, o tônico ganhou repercussão também fora do país. Em alguns lugares, chegou a ser usado para contornar restrições de álcool, o que acendeu um sinal de alerta sobre sua fórmula e efeitos.
A origem do remédio

O Biotônico surgiu em 1910 com a promessa de fortalecer o organismo por meio de uma fórmula rica em ferro. Rapidamente, caiu no gosto popular por seu uso amplo e acessível, sendo indicado tanto para crianças quanto para adultos.
Com o tempo, tornou-se parte da cultura brasileira, ajudada por campanhas publicitárias criativas. O nome “Fontoura” veio do farmacêutico responsável, Cândido Fontoura, e a marca ganhou ainda mais força com o apoio do escritor Monteiro Lobato, que colaborou em sua divulgação.
Durante décadas, o produto foi tratado como um tônico milagroso. No entanto, um componente específico de sua composição chamou a atenção das autoridades: o alto teor alcoólico, que chegava a 9,5% — superior ao de muitas cervejas.
A atuação da Anvisa e a mudança na fórmula
Diante das preocupações, a Anvisa decidiu intervir em 2001. A agência determinou a retirada total do álcool da fórmula, alegando riscos à saúde pública, sobretudo para crianças, que historicamente eram o principal público do tônico.
A reformulação foi necessária para manter o produto nas prateleiras. Desde então, o Biotônico segue sendo comercializado, mas perdeu espaço entre os brasileiros, especialmente com a popularização de alternativas modernas.
Ainda hoje, há quem consuma o tônico com nostalgia. No entanto, seu impacto já não é o mesmo — reflexo de uma nova era, em que critérios técnicos e segurança regulatória ganham mais espaço nas decisões de consumo.
Quando medicamentos precisam ser reformulados ou proibidos
Casos como o do Biotônico não são raros. Medicamentos podem ser modificados ou retirados do mercado quando estudos comprovam efeitos adversos, riscos à saúde ou inadequações em relação ao público indicado.
Além disso, mudanças na legislação e atualizações científicas também influenciam a permanência ou não de certos produtos. Quando há risco comprovado, a prioridade das agências reguladoras é sempre a proteção do consumidor.
Por isso, mesmo remédios com longa história podem passar por reformulações. A evolução científica exige constante revisão, e o que um dia foi amplamente aceito, hoje pode ser considerado inadequado.