Por que a crise atingiu tantas empresas, como Americanas, Marisa e Oi?

Após o anúncio de inconsistências fiscais na Americanas, outras empresas brasileiras anunciam dificuldades.



A Americanas começou o ano anunciando um rombo bilionário que levou a empresa a um processo de recuperação judicial. Agora, poucas semanas após o caso vir a público, a lista de companhias com dificuldades contábeis não para de crescer.

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A crise também chegou a grandes empresas brasileiras como Oi, Marisa, Tok&Stok e Nexpe. Elas não estão conseguindo pagar as dívidas, buscam reestruturação financeira ou até já foram parar na Justiça em busca de proteção.

Os fatores que levaram a esse cenário passam por problemas operacionais e de gestão, mas também podem ser vistos no macro. O principal é a alta do juro básico, que deixa o crédito mais caro. A Selic está em 13,75% ao ano desde agosto de 2022.

Outra peça desse quebra-cabeça é a recuperação lenta do consumo provocada pelo avanço da inflação. Com a população endividada, os ganhos das empresas vão abaixo. Além de tudo isso, há os temores de investidores sobre a nova política fiscal do governo.

“Empresa que presta serviço ao consumidor sofreu mais na pandemia e é mais afetada. Não vemos retomada de vendas na proporção necessária para gerar o caixa que diversas empresas precisam para pagar suas dívidas. É dívida que foi postergada nos últimos anos e que, com a alta do juro, ficou bem mais cara”, avalia Eduardo Seixas, sócio-diretor da consultoria Alvarez & Marsal.

Cenário era esperado

Especialistas previam o quadro atual de aumento na renegociação de dívidas, por isso ele não é entendido como sistêmico. Como houve muita movimentação de crédito corporativo e flexibilidade para renegociação de débitos durante a pandemia, o problema se agravou com o aumento dos juros.

Além disso, cada companhia tem suas próprias dificuldades, incluindo falhas de governança e apostas infrutíferas.

Outro ponto é a falta de sinalização de queda da Selic em um futuro próximo, o que dificulta novos investimentos. Para Vinícius Carmona, diretor de Relações com Investidores do BR Partners, uma indicação de queda nos juros poderia ajudar na recuperação dos negócios.

Um bom exemplo de empresa em apuros é a Marisa, que contratou a BR Partners para reprogramar suas dívidas de curto prazo. A varejista quer recuperar a rentabilidade e redefinir seu modelo de negócio.

O mesmo acontece com a Tok&Stok, que contratou a Alvarez & Marsal. Já a distribuidora de energia Light, do Rio de Janeiro, conta com o apoio da LaPlace. Após um longo processo de recuperação judicial, a Oi fez um novo pedido de ajuda à Justiça alegando deterioração da economia.

“O cenário é de ajuste. Os balanços dos bancos mostram aumento de renegociação de dívida com empresas ao longo de 2022. Há deterioração nesse sentido. Os bancos terão de ajustar o spread (taxa além da Selic) porque a percepção de risco aumentou. Com crédito mais caro, não se cria alavancas de crescimento. As empresas têm de priorizar caixa, vender ativos. Vamos ver consolidação (fusões e aquisições)”, completou o diretor do BR Partners.




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