O programa Desenrola, que tem como objetivo renegociar dívidas para famílias de baixa renda, está sofrendo atrasos e ainda não tem data para ser lançado. O governo Lula (PT) pretendia lançar o programa em fevereiro, com um orçamento robusto de R$ 20 bilhões disponíveis como garantia, mas a realidade mostrou-se mais difícil e agora o teto de garantia é de apenas metade disso, R$ 10 bilhões.
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Enquanto isso, a situação econômica do país tem se deteriorado, com a quebra de bancos internacionais e problemas no mercado doméstico.
Além disso, os bancos brasileiros interromperam a oferta de crédito consignado para algumas categorias, como aposentados do INSS. Esse tipo de crédito é justamente um dos mais baratos do mercado para pessoas físicas.
Nesse cenário difícil, o programa Desenrola se torna ainda mais importante para ajudar as famílias mais vulneráveis que estão sufocadas por dívidas caras. O programa poderia dar um fôlego para essas famílias ao trocar dívidas caras por outras mais baratas, permitindo que elas voltem a consumir ou evitem novos atrasos em contas de consumo.
Governo não tem data para o Desenrola, mas outras medidas chegam em abril
Além do Desenrola, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o governo também está preparando um pacote de 17 medidas de aperfeiçoamento do sistema de crédito, que deve ser lançado em abril.
Sobre o Desenrola, ele anunciou ainda que os bancos poderão usar créditos tributários para renegociar as dívidas dos inadimplentes da faixa de renda acima de dois salários mínimos.
Para a presidente executiva da Apimec, Lucy Sousa, o programa Desenrola ainda é positivo, mesmo com o orçamento reduzido. Ela afirma que o fundo garantidor dará garantia para as operações de renegociação da dívida para famílias de até dois salários mínimos, que são o elo mais frágil da cadeia e que realmente precisam de ajuda.
Entretanto, Lucy Sousa destaca que o cenário ainda inspira cuidados, especialmente em relação ao setor do varejo. Quando os bancos reduzem a oferta de crédito para esse setor, ele é impactado negativamente e isso chega até o cliente final, que muitas vezes não consegue comprar bens de consumo básicos.
Isso pode levar a uma espiral negativa, com menos demanda, menor compra dos fornecedores e aperto nas margens das empresas.
“A empresa já não consegue alongar tanto os pagamentos, é uma situação de círculo vicioso. E aí, por sua vez, é menos demanda. As varejistas também vão comprar menos dos seus fornecedores ou espremer mais os fornecedores que também já estão com as margens apertadas. E então a situação fica muito difícil”, explica a economista.