Durante décadas, a banha de porco foi colocada no banco dos réus da nutrição. Acusada de elevar o colesterol e prejudicar o coração, essa gordura tradicional foi progressivamente substituída por óleos vegetais industrializados, como o óleo de soja.
No entanto, um novo estudo brasileiro reacende o debate e sugere que talvez seja hora de repensar o que colocamos na panela.
A pesquisa, conduzida pelas nutricionistas Sonia Bordin e Polyana Niehues, da Faculdade União das Américas, em Foz do Iguaçu (PR), comparou os efeitos da banha e do óleo de soja sobre o organismo humano.
E os resultados chamaram atenção: a banha de porco apresentou impactos mais positivos na saúde cardiovascular do que o óleo de soja, especialmente em relação ao colesterol bom (HDL) e à composição corporal.
Banha de porco x óleo de soja: o que diz o estudo?
Durante 45 dias, duas voluntárias foram acompanhadas em uma rotina alimentar com refeições preparadas exclusivamente com um dos dois tipos de gordura.
A participante que consumiu pratos à base de banha de porco apresentou aumento nos níveis de HDL (colesterol bom), além de redução nos índices de triglicerídeos e VLDL.
A voluntária que ingeriu alimentos preparados com óleo de soja sofreu queda de mais de 20% no HDL, aumento de gordura corporal e ganho de peso.
Banha está voltando às cozinhas brasileiras
Muito além dos números, há uma revalorização cultural por trás da redescoberta da banha. Antes da chegada massiva dos óleos refinados, ela era protagonista da culinária brasileira — presente em receitas como feijão tropeiro, bifes suculentos e refogados com sabor de casa de vó.
Além de seu sabor marcante, a banha de porco possui um ponto de fumaça mais alto do que o óleo de soja, o que a torna mais estável e segura para frituras em altas temperaturas.
Outro ponto a favor: a banha é um ingrediente mais natural, sem aditivos químicos, conservantes ou processos industriais complexos.
Isso a coloca em destaque em um momento em que o consumidor busca alimentos menos processados e mais próximos da natureza.
Banha de porco (Foto: iStock)
Para o médico ortomolecular e cirurgião vascular Dr. Dayan Siebra, a demonização das gorduras animais tem raízes históricas pouco científicas.
Durante as décadas de 1970 e 1980, a pressão por dietas de baixo colesterol excluiu sumariamente qualquer gordura saturada da alimentação, sem respaldo em evidências robustas.
Hoje, com o avanço dos estudos, percebe-se que, em quantidades moderadas, a banha pode ser parte de uma alimentação equilibrada e saudável.
Banha de porco e saúde cardiovascular
O colesterol presente nos alimentos pode ter origem endógena (produzido pelo corpo) ou exógena (ingerido por meio da dieta).
A gordura consumida liga-se a proteínas no sangue e forma as chamadas lipoproteínas, como LDL, HDL, VLDL e triglicerídeos.
A banha de porco, por ser uma gordura saturada de origem animal, é muitas vezes evitada — mas o estudo mostra que seu impacto pode ser mais positivo do que se pensava, especialmente na elevação do HDL.
Já o óleo de soja, amplamente utilizado por ser de origem vegetal, passa por processos como extração por solventes químicos, o que altera sua estrutura e o torna menos estável em altas temperaturas.
Além disso, o estudo observou que, embora o colesterol total tenha diminuído com o uso do óleo, as frações mais importantes para a saúde cardiovascular foram negativamente afetadas.
Esse é mais um dos indícios de que a ciência tem confirmado o que nossos avós já sabiam: a banha de porco, usada com equilíbrio, pode ser sinônimo de saúde, sabor e tradição.