Em um desfecho totalmente contraintuitivo, uma pesquisa clínica revelou que a privação de sono pode resultar em uma melhora no humor de pessoas com depressão. Nesse estudo, cientistas investigaram a relação entre a amígdala e o córtex cingulado, mapeando a atividade cerebral durante o repouso e a vigília.
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A pesquisa incluiu 38 pessoas sem distúrbios depressivos e 30 com transtorno depressivo maior, além de um grupo de controle com 16 indivíduos que puderam dormir normalmente.
A investigação ocorreu ao longo de cinco dias, utilizando ressonância magnética funcional (fMRI) para mapear o cérebro em três sessões para cada participante, totalizando 210 escaneamentos por pessoa. O primeiro escaneamento ocorreu após uma noite de sono normal, servindo como referência. Os grupos privados de sono foram submetidos a um segundo escaneamento na manhã do terceiro dia sem dormir.
Resultados inesperados
Não surpreendentemente, muitos participantes apresentaram piora no humor imediatamente após uma noite sem dormir. Entretanto, entre os participantes com depressão:
- 13 dos 30 (ou seja, 43%) mostraram uma melhora no humor;
- Enquanto os outros 17 experimentaram piora ou nenhuma mudança significativa.
Após uma noite de sono restaurador, 20 pacientes com transtorno depressivo maior apresentaram melhora no humor, enquanto os demais mostraram piora ou estabilidade.
O papel das regiões cerebrais
A conexão entre a amígdala e o córtex cingulado anterior aumentou consideravelmente nos pacientes que mostraram melhora no humor, mas houve menos aumento nos que não apresentaram mudanças.
A amígdala tem um papel crucial no processamento de estímulos associados ao medo e à ameaça. Ela age como um alarme interno, sinalizando outras regiões cerebrais para desencadear uma resposta de ação diante de situações percebidas como perigosas.
Por outro lado, o córtex cingulado anterior está intimamente ligado ao sistema límbico, responsável por regular as emoções, e ao córtex pré-frontal, envolvido em funções cognitivas superiores, como tomada de decisões, controle das emoções e processamento afetivo.
Os resultados do estudo sugerem que a conexão entre essas áreas cerebrais pode refletir a resiliência neural em relação às oscilações de humor após a privação de sono, o que pode ser um alvo promissor para intervenções antidepressivas.